Obras de infraestrutura exigem equipamentos especiais e grande contingente de trabalhadores, o que aumenta risco de acidentais pessoais.
Acidente na Arena Palestra Itália
ANTONIO PENTEADO MENDONÇA *
* É PRESIDENTE DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS,
SÓCIO DA PENTEADO MENDONÇA ADVOCACIA
E COMENTARISTA DA ‘RÁDIO ESTADÃO’.
* É PRESIDENTE DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS,
SÓCIO DA PENTEADO MENDONÇA ADVOCACIA
E COMENTARISTA DA ‘RÁDIO ESTADÃO’.
O recente acidente nas obras da Arena Palestra Itália
traz à baila o seguro da construção de grandes obras, como os estádios
de futebol, metrô, trens, barragens, autoestradas etc.
São obras que, pelo seu tamanho, não se confundem com as obras de
engenharia comum, como a construção de edifícios residenciais ou
empresariais. Normalmente, em função do porte, estas obras requerem
equipamentos especiais, mão de obra diferenciada, além de intensa mão de
obra menos qualificada. Como não poderia deixar de ser, elas exigem um
contingente de trabalhadores maior, o que aumenta o risco de acidentes
pessoais. Da mesma forma que aumenta o risco de erros e falhas
profissionais.
Ou seja, as seguradoras devem tratar as grandes obras de forma mais
cuidadosa do que o seguro da construção de um edifício de 15 andares.
Não apenas porque os valores são muito maiores, mas também porque a
complexidade envolvida exige estudos muito mais sofisticados.
Se um edifício comum pode ser segurado dentro de uma apólice padrão
de seguro de risco de engenharia, uma arena como a Arena Palestra Itália
requer uma contratação personalizada, levando em conta as
particularidades do empreendimento, desde o projeto até o material
utilizado.
Não é apenas a construção ou a entrega do empreendimento que precisam
ser levados em conta. Numa obra de grande porte, absolutamente tudo,
precisa ser detalhadamente quantificado, analisado e valorado.
Começando pelos riscos com pessoal, a contratação da mão de obra,
treinamento, equipamentos de proteção, instalações, dormitórios, turnos e
jornadas, número de funcionários por turno, quantidade de turnos,
trabalho noturno, mão de obra própria e terceirização, tudo precisa ser
levado em conta para o dimensionamento do risco.
Da mesma forma, o projeto, os estudos do solo, de viabilidade, os
materiais, os equipamentos a serem empregados, dependência de
fornecedores, produtos nacionais e importados, prazos de entrega, fluxo
de caixa, cronograma das obras, cronograma financeiro, fontes de
financiamento, garantias, tudo, sem exceção, precisa ser minuciosamente
analisado e quantificado.
Se uma seguradora deixar de tomar estes cuidados, o risco de
acontecerem eventos não previstos, mas cobertos pelo seguro é grande e o
resultado do que parecia um bom negócio pode ser um prejuízo.
Neste tipo de obra é fundamental o conhecimento do risco por quem faz
a aceitação do seguro. Ao contrário dos pacotes patrimoniais
residenciais ou empresariais, onde a massa compensa eventuais diferenças
a favor ou contra, nos seguros de grandes obras o risco é aceito de
forma praticamente individualizada.
Ou seja, cada obra é um risco diferente. Não existem duas barragens
iguais, dois estádios iguais ou dois metrôs iguais. São riscos
semelhantes, mas, na prática, cada um é um e não se confunde com o
outro.
Variações de composição do solo, desenho, equipamento a ser
empregado, tamanho, capacidade, localização fazem com que a aceitação do
risco tenha que levar em conta detalhes que nos seguros de menor porte
são diluídos na massa segurada, deixando de ter, individualmente,
impacto sobre o resultado do negócio.
Outra diferença que pode ter sérias consequências é que os segurados
de grandes obras são grandes empresas. Empresas que podem ser muito
maiores do que as seguradoras que estão garantindo o risco. Isto gera
uma enorme capacidade negocial, capacidade que costumeiramente leva o
prêmio do seguro para patamares com margens muito estreitas, onde um
erro mínimo por parte da seguradora pode acabar resultando num negócio
mal feito.
Não existe risco ruim, existe seguro mal feito. Nas grandes obras, a
complexidade é um diferencial que necessita ser levado em conta. Além
dela, a ordem dos valores envolvidos é de tal monta que também pode
comprometer o resultado do seguro, ainda que aconteça um único sinistro
de pequeno porte.
O Estado de São Paulo 20 de maio de 2013 - 2h 07
Nenhum comentário:
Postar um comentário