Samuel Gomes*
Os recentes entendimentos entre os presidentes do Brasil e do Paraguai indicam que a luta da comunidade da fronteira pela construção de uma segunda ponte unindo Foz do Iguaçu e o Paraguai está próxima da vitória. Este é o momento para que atentemos para as conseqüências que a modalidade de concepção e realização da obra terá para a viabilização da integração continental por via ferroviária, assegurando ao Paraná o acesso ao Pacífico e o escoamento da produção paraguaia e argentina por Paranaguá.
Para chegarmos ao Pacífico por ferrovia, partindo de Foz do Iguaçu, precisamos construí-la até Resistência, na Argentina, distante 580 km. Depois de Resistência, há ligação ferroviária até os portos de Antofagasta e Mejillones del Sur, no Chile. Até Resistência, precisaremos fazer três transposições fluviais: do rio Paraná entre Foz do Iguaçu e o Paraguai (Ciudad del Este ou Hernandárias), do rio Paraná entre Encarnación no Paraguai e Posadas na Argentina e do rio Paraná ou do rio Paraguai na região de Corrientes e Resistência, na Argentina.
O caminho ferroviário ao Pacífico exige, portanto, três pontes, a primeira das quais é a que se encontra em vias de ser construída entre Foz do Iguaçu e o Paraguai. A segunda ponte na direção do Pacífico já está construída e é rodoferroviária, unindo Encarnación, no Paraguai, e Posadas, na Argentina, a 250 km de Foz do Iguaçu. Assim, se incorporarmos o modal ferroviário ao projeto de construção da segunda ponte entre Foz do Iguaçu e o Paraguai, restará a ser edificada apenas uma terceira ponte, na região de Corrientes e Resistência, na Argentina. Em qualquer circunstância, a construção de uma segunda ponte entre o Paraná e o Paraguai incluindo o modal ferroviário permitirá a cristalização de Paranaguá como destino preferencial da produção do Paraguai e do nordeste da Argentina, cujo escoamento, mer cê de nossas deficiências logísticas, está sendo reorientado para Buenos Aires.
A proposta política da integração latino-americana mobilizou corajosas gerações de nossos antepassados, simbolizadas em Bolivar e Che Guevara. A integração sul-americana é componente significativo da integração da América Latina. A nós e aos nossos atuais dirigentes políticos – Lula, Kirchner, Nicanor Duarte, Chavez, Ricardo Lagos - cabe levar adiante, no quadro dos desafios da globalização, a integração dos nossos povos.
Embora a integração regional não se restrinja à sua dimensão econômica, esta indubitavelmente é o seu motor. E a integração econômica regional não é contraposta à nossa inserção na economia internacional. Antes pelo contrário, nos confere condições superiores de competitividade, do que são exemplos os vários blocos econômicos que disputam protagonismo no comércio mundial. Nisso reside o significado estratégico da ferrovia do Mercosul, não apenas para a construção da complementaridade entre nossas economias, integrando os nossos esforços produtivos, como para aumentar o nosso poder no comércio internacional.
Por isso, as decisões sobre a construção da segunda ponte entre Foz do Iguaçu e o Paraguai precisam considerar a necessidade da ferrovia no processo da integração sul-americana e no reforço da competitividade dos produtos gerados na região da tríplice fronteira. Devemos estar à altura da herança das gerações passadas e dos desafios do nosso tempo, agindo de forma a que possamos ser merecedores do agradecimento das gerações futuras.
* Samuel Gomes - Ex - Diretor Administrativo, Financeiro e Jurídico da Ferroeste - Gov Requião
Mapa expansão da Ferroeste rumo ao pacifico inteligando a ferrovia Argentina General Belgrano em bitola métrica e as Ferrovia Oriental na Bolivia, até o Porto de Antofagasta através da Ferrovia Chilena
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