terça-feira, 29 de maio de 2012

Otimização em logística ferroviária

 

Cenário Brasileiro

O transporte ferroviário, ao contrário do rodoviário, é praticamente todo feito em linhas singelas, isto é, o tráfego nos dois sentidos é feito numa única linha.  

 

O transporte ferroviário no Brasil ainda é muito pouco utilizado comparado com os países desenvolvidos como os Estados Unidos, França e Japão.

Nossa malha ferroviária tem pouco menos de 30 mil quilômetros, quase metade da malha ferroviária da França. Poucos produtos industrializados são transportados por esta modalidade, grande parte da carga é composta por minério de ferro, com 75% do total de carga transportado.

Mesmo com pouco investimento, o transporte ferroviário é claramente muito importante para nossa economia: Aproximadamente 23% de toda carga brasileira é feita por esta modalidade, resultando em mais de 435 milhões de toneladas transportadas em 2010, com um crescimento de 14% em relação a 2009, e um investimento de R$ 4,6 bilhões em 2010. 

Além disso, esta modalidade de transporte representa um frete 20% mais barato do que o transporte rodoviário. Neste segmento, as três maiores empresas do setor no Brasil, Vale, MRS e ALL, tiveram um faturamento maior do que R$ 10 bilhões em 2011.

Com todo este valor econômico envolvido, aplicar otimização matemática no processo de logística ferroviária torna-se muito financeiramente muito interessante, devido as possibilidades de grandes reduções de custo e aumento de eficiência e produtividade.

Otimização Matemática – Um exemplo real

O transporte ferroviário, ao contrário do rodoviário, é praticamente todo feito em linhas singelas, isto é, o tráfego nos dois sentidos é feito numa única linha. Quando os trens em sentidos opostos tem que se cruzar, são utilizados os pequenos pátios de cruzamento espalhados pela malha.

 A gestão dos cruzamentos dos trens é feita por controladores nos CCO’s (centros de controle operacional) que recebem dados por rádio dos maquinistas e dos aparelhos de GPS dos trens. Quando o controlador decide o pátio de cruzamento de dois trens, ele se comunica com os dois por meio de licenças, informando qual dos dois deve parar e qual deve prosseguir.

Como cada controlador chega a gerir mais de 100 trens ao mesmo tempo, fica virtualmente impossível fazer com que os cruzamentos gerem as menores paradas possíveis em todas as situações. Muitas vezes, um trem fica parado por horas para esperar outros passarem sendo que poderia prosseguir por mais algum tempo e fazer o cruzamento no pátio adiante.

Esta dificuldade na gestão de cruzamentos deu origem a um dos projetos de otimização matemática dos quais já participei. O projeto foi desenvolvido por uma empresa brasileira de transporte ferroviário e, em linhas gerais, foi composto das seguintes etapas:
  • Foi desenvolvido um modelo que tem por fim minimizar o tempo de transito total dos trens de suas origens até seus destinos. Todas as características da gestão do transporte ferroviário foram transformadas em expressões matemáticas e representam as regras do modelo. Dados bastante específicos como o comprimento do trem foram incorporados ao modelo, neste caso muito importante, pois se um trem mais longo do que o pátio de cruzamento é decidido como trem a parar, sua calda irá bloquear o trecho e toda a circulação fica bloqueada. 
  •  O modelo recebe os dados do posicionamento atual dos trens em circulação e suas rotas e planeja as próximas horas de cruzamento, deixando para o controlador somente o trabalho de comunicação com os maquinistas e gestão de anomalias. Algumas regras inclusas no modelo são:  decisão de via a ser utilizada no pátio de cruzamento, atraso controlado da partida dos trens ainda não circulando, conexões dos trechos individuais, consideração das vias interditadas e seus prazos para finalizar, regras específicas de trens de manutenção, prioridade de trens, consideração das paradas programadas futuras, controle de ultrapassagem, etc.
A criação do modelo matemático que serviu de base para esse projeto representou um grande desafio devido ao grande número de cenários possíveis que deveriam ser atendidos.  A complexidade matemática desse tipo de problema faz com que seja usual termos a necessidade de utilizar softwares especialistas e técnicas de decomposição para que tenhamos um tempo de resposta aceitável na resolução do modelo matemático.

Na empresa que foi implementada esta solução de otimização, foi observada uma redução de 10% no tempo total de cruzamento, gerando 3% de redução no tempo total de trânsito nos principais trechos. Além disso, a implantação da solução possibilitou que os controladores enviassem licenças mais longas para os maquinistas, gerando a expectativa de redução de 30% do trabalho necessário nesta função. Dentre outros benefícios, a possibilidade de erro humano diminui drasticamente, reduzindo o risco de acidentes.

Otimização como diferencial competitivo

O modelo matemático criado para esse projeto tem a grande vantagem de ser especializado e generalizado ao mesmo tempo, isto é, com poucos ajustes consegue atender outras empresas de logística ferroviária. Além disso, utilizando as mesmas técnicas de modelagem mas com outro objetivo, pode atender empresas de transporte ferroviário metropolitano (metrô).

É importante ressaltar que a otimização de malhas ferroviárias é apenas um dos muitos cenários empresariais onde a aplicação de otimização matemática traz benefícios tangíveis de redução de custos e aumento de eficiência.

Para empresas que buscam melhorar sua competitividade através de custos mais baixos e maior eficiência na utilização de recursos, a otimização matemática pode tornar-se um forte aliado.

Por Giovane Cesar, Consultor Sênior da eWave do Brasil

IBM - 15 Abril 2012

- giovane.cesar@ewave.com.br

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Falta de equilíbrio - Roberto Rockmann

Roberto Rockmann

 Ministro-chefe da secretaria de Aviação Civil, Wagner Bittencourt de Oliveira: "Precisamos tanto de uma gestão pública eficiente quanto do setor privado eficiente para fomentar todo o setor"

As pretensões do Brasil de tornar-se a quinta economia do mundo e consolidar-se como maior fornecedor de grãos e carnes do planeta poderão esbarrar na logística deficiente. Para ganhar competitividade e espaço no mercado internacional, o país precisa melhorar sua matriz de transportes, reduzindo a participação rodoviária e criando condições para que os usuários possam, de fato, escolher entre os modais rodoviário, ferroviário, fluvial ou de cabotagem para o embarque de seus produtos. Chegar a esse objetivo será tarefa complexa, já que envolve maior atração de capital privado, a solução de impasses regulatórios, legais, ambientais e também o melhor planejamento de editais e projetos.

"Nossa competitividade está em xeque, precisamos reduzir custos de produção e melhorar nossa logística, para recuperar o terreno perdido", afirmou o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, na abertura do "7º Encontro de Logística e Transportes", realizado na segunda e terça-feira na sede da Fiesp, em São Paulo. Em 1985, a indústria de transformação respondia por 27% do PIB. Hoje essa parcela está em 14,6%. O Brasil precisa elevar investimentos para resgatar a força da indústria e ainda dar conta de ocupar o papel de celeiro do mundo na produção de alimentos. "O nível de investimentos em transportes corresponde a 0,5% do PIB. Precisamos multiplicar esse número dez vezes, para pelo menos 5%, se quisermos atingir os padrões dos países asiáticos", disse o diretor de infraestrutura da Fiesp, Carlos Cavalcanti.

A matriz de transportes é desequilibrada: cerca de 60% das cargas são escoadas por rodovias, as ferrovias respondem por 25% e o modal aquaviário por 17%. Em comparação a países de extensão territorial semelhante, os números do Brasil destoam. Nos EUA, 43% da circulação de cargas é feita por ferrovias e 32% pelas estradas, enquanto na China 50% é feita pelas rodovias e 37% por trilhos.

Além do peso excessivo nas estradas brasileiras, há outro problema: apenas 13,5% delas são pavimentadas. "Há muito espaço para que as hidrovias e as ferrovias aumentem sua participação e reduzam esse desequilíbrio histórico", destaca o diretor de planejamento de transportes da Secretaria de Política Nacional de Transportes, Francisco Luiz Baptista da Costa.
Ele ressalta que os investimentos do Ministério dos Transportes têm crescido. Na década de 1990, chegaram a 0,2% do PIB, enquanto hoje estão em um nível três vezes acima. "Mudou esse patamar", disse. Apesar disso, o volume de recursos do governo ainda está abaixo do recorde apurado na década de 1970, quando a pasta investia quase 2% do PIB.

O ministro-chefe da secretaria de Aviação Civil, Wagner Bittencourt de Oliveira, destaca que é preciso aperfeiçoar bastante a logística nacional, o que passa pela atração do capital privado. "Precisamos tanto de uma gestão pública eficiente quanto de um setor privado eficiente para fomentar todo o setor", diz. Elevar os investimentos exigirá ampliar a participação das empresas seja por meio de Parcerias Público Privadas (PPP), seja via concessões.

Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta a necessidade de R$ 180 bilhões em investimentos para expansão e adequação da malha rodoviária nos próximos cinco anos, ou seja, R$ 36 bilhões por ano. "O orçamento do governo federal prevê R$ 12 bilhões neste ano, o que mostra a necessidade de avanço nas licitações, que pararam em 2009", ressalta Cavalcanti.

Atrair investidores passa também pela reformulação regulatória e pela simplificação do modelo estrutural que rege o segmento. Para o diretor da Fiesp, o arranjo institucional do setor de logística e transportes não deveria continuar com o processo decisório pulverizado em três ministérios, várias secretarias e três agências reguladoras. "É fundamental que as instituições trabalhem de forma integrada e que ocorra a implantação efetiva de um sistema de planejamento estratégico de longo prazo, estruturado de forma a proporcionar racionalidade nos investimentos e na operação integrada dos diversos modais", afirma.

Há outros obstáculos. Análise do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre cerca de 500 obras fiscalizadas no ano passado mostra que as principais irregularidades encontradas referiram-se a sobrepreço e superfaturamento, projetos inadequados ou inconsistentes e falhas nos editais. "Como a maioria dos projetos é feita pela iniciativa privada, vê-se que alguns projetistas entregam documentos fracos", afirma o secretário de Fiscalização de Obras do TCU, José Ulisses Rodrigues Vasconcelos.

Em alguns casos, para melhorar o transporte de cargas, será preciso trabalhar em conjunto com projetos de mobilidade urbana. Um nó a ser desatado está na região metropolitana de São Paulo, onde trens de carga disputam espaço na mesma linha com vagões de passageiros. O problema dificulta a chegada dos trens ao Porto de Santos - em alguns casos a travessia das cargas é feita apenas de madrugada, quando o volume de passageiros cai. Um trem de açúcar de Ribeirão Preto ao porto pode levar sete dias.

A solução para o impasse seria a construção do Ferroanel, um anel ferroviário que circundaria a região metropolitana, retirando a circulação de cargas da linha de passageiros. "O crescente gargalo nas rodovias torna essencial a expansão do setor ferroviário", diz Eduardo Parente, presidente da MRS Logística e do conselho de administração da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários.

Para criar a cultura de multimodalidade, além de ampliar a presença dos modais ferroviário e aquaviário, será preciso atrair os usuários. "É preciso construir essa cultura, porque o sistema rodoviário tem grandes lacunas", diz José Luis Demeterco, presidente da Brado Logística.

A frota de caminhões é antiga: cerca de 75% dos veículos têm mais de dez anos, enquanto 50% mais de 20; há 900 mil transportadores, dos quais a maioria tem uma frota de até cinco veículos. "Movimentamos aqui apenas 3% de cargas em contêineres pelas ferrovias, enquanto nos EUA esse número chega a 42%, o que mostra o que é preciso avançar nesse quesito", destaca.

O licenciamento ambiental e a questão judicial são dois outros problemas que afetam várias obras no Brasil e envolvem empreendimentos de governos estaduais, municipais e da União. O secretário de transportes metropolitanos do Estado de São Paulo, Jurandir Fernandes, afirmou na abertura do seminário que, apesar de as verbas estarem disponíveis para tocar empreendimentos, muitos projetos patinam em meio a recursos administrativos após a abertura das licitações, dificuldades de obtenção de licenciamento ambiental e problemas básicos de planejamento. "Estamos trabalhando para arrumar cada vez melhor os editais."

No caso de uma linha do Metrô paulistano a ser executada na cidade, os atrasos - entre problemas judiciais e licenciamento - chegaram a três anos.

Jornal  Valor Econômico - 28/05/2012

Empresas encaram alta dos custos

Figura : Fonte Mauricio Lima Instituo Ilos

 Por Eduardo Belo


Sergio Biagioli: solução dos problemas logísticos passa pela discussão e decisões conjuntas entre governo, sociedade, empresas e entidades de classe
As empresas estão pagando pelo atraso logístico do país. A conta é elevada e não para de subir. Os custos logísticos médios na indústria já representam 8,5% do faturamento do setor, aponta estudo da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Em alguns casos, o custo pode chegar a 12% do faturamento, dependendo do ramo de atividade, afirma Anselmo Riso, gerente de relações governamentais da Bosch e diretor de comércio exterior do Ciesp de Campinas. Riso foi um dos palestrantes do 7º Encontro de Logística e Transportes realizado pela Fiesp na semana passada.

Estudo do Banco Mundial revela que no Brasil as empresas são obrigadas a trabalhar com estoques três vezes maiores que a necessidade média a fim de compensar as ineficiências do sistema, revela Pedro Moreira, diretor adjunto da divisão de logística e transportes da Fiesp.

Na avaliação de Riso, as empresas brasileiras são altamente eficientes em logística "do portão para dentro". Já fizeram de tudo para tornar-se competitivas nesse sentido. O que emperra a queda dos custos "do portão da fábrica para fora" é a burocracia, a falta de infraestrutura e a desregulamentação de algumas atividades. Segundo ele, um dos problemas brasileiros é que os portos não funcionam 24 horas por dia, encarecendo e retardando as operações.

O custo logístico representa 11,6% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, enquanto nos Estados Unidos, país com dimensões semelhantes, a participação é de apenas 6,9% do PIB, aponta Sérgio Biglioli, diretor de operações logísticas do Grupo Pão de Açúcar. Burocracia e infraestrutura deficiente fazem com que o transporte responda sozinho por 6,9% do PIB no Brasil. Nos EUA a taxa é de 5,4%. O mesmo se dá em relação aos estoques: 3,5% contra 2,1% do PIB.

De acordo com o estudo da Fiesp, a mão de obra participa com 10% a 15% do custo logístico. Esse item é agravado pela falta de qualificação dos profissionais. Já o frete responde por 35%, mas essa participação tende a aumentar, principalmente com o aumento das restrições na circulação urbana. Depois de ter sido adotado em São Paulo, o modelo agora chega às cidades do interior. No segundo semestre começa a funcionar em Campinas (SP) a restrição à circulação de caminhões de grande porte semelhante à implementada na capital paulista.

Restrições dessa natureza são uma das maiores dores de cabeça do comércio. O Pão de Açúcar, por exemplo, enfrenta questões como abastecer uma loja da rede em apenas duas horas na cidade de São Paulo, devido à combinação de limites de horários de tráfego, tamanho de veículo e questões como lei do silêncio e horário de atendimento. "A logística hoje, no Brasil, é ineficiente e custa caro", afirma Biglioli. O executivo defende que o setor tem de "deixar de ser reativo para se tornar interativo". Biglioli acredita que a solução dos problemas logísticos brasileiros passe pela discussão e decisões conjuntas entre governo, sociedade, empresas e entidades de classe.

O Pão de Açúcar já busca alternativas para reduzir custos. Uma delas é utilizar a navegação de cabotagem, cerca de 20% mais barata, para enviar produtos para o Nordeste - região de maior crescimento nas vendas. O problema é que a operação pode durar 15 dias. Além de longo, esse prazo não permite o uso mais intenso do modal. Cerca de metade da carga do Pão de Açúcar é de alimentos, a maior parte perecível.

Por falta de fornecedores locais, 40% dos produtos vendidos no Nordeste saem de São Paulo, segundo a empresa. Para minimizar o problema, ainda este ano os importados destinados à região começaram a ser desembarcados diretamente nos portos de Pernambuco e Ceará.

A infraestrutura é uma das grandes causas da ineficiência, afirma Nelson Fernandes Jr., presidente no Brasil do grupo logístico francês Geodis. Segundo ele, o desafio é construir infraestrutura, acabar com a má qualidade de asfalto nas rodovias e melhorar a qualificação da mão de obra, incluindo os caminhoneiros.

De acordo com Fernandes Jr., dados da Polícia Rodoviária Federal indicam que de cada três mortes nas estradas brasileiras, duas envolvem a participação de caminhões.

Os acidentes, em sua maioria, são causados por fadiga do motorista decorrente de longas jornadas, excesso de peso e má conservação de veículos e vias.

O executivo a Geodis citou a preocupante situação dos portos brasileiros, classificados no 130º lugar de um ranking de eficiência com 142 países. "Só o Porto de Santos enfrenta congestionamentos de 5 mil carretas", diz. "Em Paranaguá, uma operação de embarque pode demorar 25 dias e em Aratu, na Bahia, navios graneleiros ficam até sete dias na fila. Isso sem falar no acesso aos portos, quase sempre muito difíceis", comenta.

De acordo com Fernandes Jr., os aeroportos também estão com a capacidade esgotada e enfrentam problemas como a falta de vagas de pátio para estacionamento de aeronaves, acessibilidade ruim, ausência de terminais de carga e inexistência de uma rede de aeroportos de médio porte que alivie o movimento nos grandes terminais.

Jornal

Valor Econômico - 28/05/2012

Porto de Santos precisa superar gargalo de acesso



Maior terminal portuário do país, com um movimento perto de 90 milhões de toneladas de cargas em 2011, o Porto de Santos, no litoral paulista, carece de mais planejamento e vontade política para estabelecer alternativas que superem os atuais gargalos

Maior terminal portuário do país, com um movimento perto de 90 milhões de toneladas de cargas em 2011, o Porto de Santos, no litoral paulista, carece de mais planejamento e vontade política para estabelecer alternativas que superem os atuais gargalos que dificultam o acesso para embarque e desembarque de mercadorias.

Essa foi a visão apresentada por empresários, armadores e gestores de autarquias portuárias, em painel no 7u00ba Encontro de Logística e Transportes, em São Paulo, para quem as condições precárias no transporte de cargas, por conta dos gargalos de acesso, rodoviário e ferroviário, trazem pesados impactos de custos e transtornos para a população urbana, de Santos e São Paulo.

“A melhoria de acesso é a decisão mais emergencial”, resume Martin Aron, diretor do Departamento de Infraestrutura (Deinfra) da Fiesp. Devido ao aumento das exportações de commodities (96% do total de produtos exportados pelo Brasil são realizados através dos portos), o terminal santista cumpre também uma escalada de crescimento.

Em 1994, o porto santista movimentava 34 milhões de toneladas de cargas. Em 2011, 14 anos depois, esse o movimento atingiu 85,9 milhões, o maior entre os portos brasileiros, de acordo com dados do Anuário Estatístico Aquaviário. A expectativa deste ano é de ultrapassar 100 milhões de toneladas.

“Isso deve aumentar as dificuldades de escoamento e chegada de mercadorias, e vai demandar mais acessos”, analisa Mauro Salgado, diretor comercial e administrativo da Santos Brasil, empresa de operação de contêineres. Ele assinala que faltam planejamento e definição de alternativas para desafogar a concentração do fluxo rodoviário, que cresce 20% a cada quatro anos. É uma carga que passa pelo centro urbano de São Paulo.

Um elemento complicador nesse cenário, de acordo com ele, é a expressiva evolução da atividade de contêiner, que representa hoje a parcela que mais cresce no movimento geral de cargas. Em 2011, o transporte por contêineres foi de 7,9 milhões de TEUs (unidade correspondente a um contêiner de 20 pés), o que significou um aumento de 7,4% em relação a 2010.

O investimento no modal ferroviário pode ser a alternativa, com vantagens consideráveis, entre as quais a de redução de custos logísticos e melhorias na movimentação de contêineres, aponta Guilherme Quintela, presidente da Contrail, uma das principais operadoras de transporte multimodal de contêineres do país. “A previsão é de que em seis anos dobre o movimento de contêineres em Santos por conta de grandes investimentos privados”, destaca Quintela.

O aumento do transporte de em contêineres deve trazer benefícios para a navegação de cabotagem, que, no ano passado, foi responsável pela movimentação de 133,2 milhões de toneladas. “A cabotagem tem amplo mercado a conquistar com a expansão do mercado de contêineres, comenta Cleber Lucas, vice-presidente do Sindicato Nacional das Empresas de navegação Marítima. (GC)

Jornal 

Valor Online e Impresso

Da Redação  28 maio de 2012

Interferências políticas tumultuam a agenda



Apontada como a mais atrasada das infraestruturas no país, o setor de transporte e logística é o segmento que mais sofre com o “custo Brasil” e o que mais padece de interferências políticas

 

Apontada como a mais atrasada das infraestruturas no país, o setor de transporte e logística é o segmento que mais sofre com o “custo Brasil” e o que mais padece de interferências políticas. “É inconcebível que uma agência nacional de transportes tenha um diretor que era técnico de basquete e que, em função de ser assessor de um senador da base governista, vira diretor de uma agência reguladora”, diz Osvaldo Agripino de Castro Jr, professor de Direito Regulatório e de Direito Marítimo e Comercial Internacional.

Ele falou sobre Marco Regulatório no 7º Encontro de Logística e Transportes – Brasil: um país sem logística?, realizado pela Fiesp, em São Paulo. Entre os participantes, a tônica comum foi a distância que separa legislações, políticas, agências e empenho da iniciativa privada dentro do setor de transporte e logística.

Segundo o professor, “a questão está mais na política e na percepção do empresariado, tanto dos prestadores de serviços como nos donos de carga”. No transporte marítimo internacional – ele cita – “temos a 6u00aa economia mundial e a 32º frota marítima no mundo. Hoje 95% do nosso comércio exterior é feito por transporte marítimo e temos menos de 1% de navios de bandeira brasileira operando. Dependemos das bandeiras de conveniência que fazem o que querem enquanto a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) não tem poder sequer sobre o valor do frete”, critica. Segundo Castro Júnior, a “maior parte dos 34 portos no Brasil não tem licença para operar”.

Fernando Xavier Ferreira, vice-presidente do Conselho Superior de Infraestrutura (Coinfra) da Fiesp, lembrou que o modal transporte e logística é o que mais necessita de um órgão eficiente. “Não temos nenhum aparelho regulatório que incentive o desenvolvimento daquilo que traz melhor economia, mais benefícios para o custo Brasil”, diz.

O fato de o setor de transporte ter começado sua fase de regulação quando estava sendo desestatizado explica em parte as dificuldades que encontra e o fato de ainda se conservar dividido, sem a participação do Legislativo, observa Geraldo Vianna, consultor da NTC & Logística. “Quase 95% das leis do Brasil são originárias de iniciativa do Executivo. Há um atropelamento”, afirma.

“Em 2007, diante da pressão pela modernização dos portos, foi criada a Secretaria Especial de Portos, arrancando mais uma costela do Ministério dos Transportes e dela criando uma secretaria ligada diretamente à Presidência da República com status de ministério”, diz Viana.

Em 2005, com a crise dos controladores de voo, a Anac já existia enquanto a Infraero nasceu em 1972. Viana lembra que, apesar de todas essas siglas e órgãos reguladores, ainda “há uma modalidade de transporte que não é tratada em lugar nenhum e que está entregue a administração direta da Transpetro – trata-se do escoamento das cargas líquidas no Brasil que não tem um marco regulatório, que são os 11 mil quilômetros de dutos: oleodutos e gasodutos.” Essa criação de siglas levou a um “fatiamento” do setor de transporte, afirma. (RC)

Jornal  Valor Online e impresso  Da Redação  28 maio 2012

Ramais compartilhados podem ajudar ferrovias


Ferrovias compartilhadas para melhorar a Logística

 

 Operadores e usuários de ferrovias começam a discutir o compartilhamento de redes para melhorar a produtividade

 

Operadores e usuários de ferrovias começam a discutir o compartilhamento de redes para melhorar a produtividade. O debate nasceu da constatação de que é preciso tomar providências urgentes para minimizar os efeitos do apagão logístico do país. O crescimento da economia e os gargalos da infraestrutura estão impondo o desafio de ampliar rapidamente a oferta de transporte de carga, mas a alternativa mais viável, a ferrovia requer obras demoradas e caras.

Com 28,3 mil quilômetros de ferrovias, o país precisaria ter pelo menos 52 mil quilômetros para responder às necessidades, estima Rodrigo Vilaça, presidente da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF). No ritmo atual de expansão, a malha de trens de carga só chegará a esse número entre 2025 e 2030, prevê. No debate Expansão e Modernização da Malha Ferroviária Brasileira, durante o 7 (sétimo) Encontro de Logística e Transportes realizado pela Fiesp, o compartilhamento de linhas foi a medida mais discutida.

Hoje, apenas 7% estão realmente compartilhados, estima Renato Voltaire, diretor técnico da Associação Nacional dos Usuários de Transporte de Carga (Anut). Segundo ele, apenas um terço da malha nacional tem uso adequado. O restante, 19 mil quilômetros, estão subutilizados.

País precisaria ter pelo menos 52 mil quilômetros de linhas para atender as necessidades internas

O setor só não sabe qual a modalidade mais indicada para o Brasil, entre várias possibilidades: compartilhamento compulsório, voluntário, supervisionado, livre, entre outras. Na União Europeia, foi adotado o compartilhamento compulsório. O operador ferroviário é obrigado a franquear os trilhos a outras empresas. A gestão do tráfego cabe a um terceiro agente.

Voltaire defendeu outras ações que podem melhorar o uso da capacidade instalada: estimular a intermodalidade – a conexão entre ferrovia e outros modais -, e ampliar o transporte da carga geral (industrial), hoje restrita a 0,6% do total. Atualmente, poucos produtos transitam por via férrea. Segundo o executivo da Anut, os minérios respondem por 75% do total. A soja, com 5%, e outros agrícolas, com 4,3%, vêm em seguida. O setor da indústria que utiliza bem o trem é a siderurgia, com 3,8% da movimentação.
José Eduardo Saboia Castello Branco, presidente da Valec, concorda que o desafio é atender a outros setores, mas entende que é preciso também chegar a outras regiões. A estatal está concluindo um trecho de 700 km entre Palmas (TO) e Açailândia (MA) que deve transportar 3,5 milhões de toneladas de cereais por ano e ajudar a aliviar os portos das regiões Sudeste e Sul.

Castello Branco citou pesquisa do Instituto Ilos no qual as empresas apontam vários entraves para o uso de ferrovias. Entre os motivos alegados destacam-se a indisponibilidade de frete, com 34% das respostas, custo elevado (28%), falta de vagões (23%) desinteresse da própria ferrovia em efetuar o serviço (23%) e baixa velocidade (21%).

O executivo apresentou estudo mostrando que o transporte ferroviário custa em média R$ 4,60 por tonelada por quilômetro útil no Canadá e R$ 3,40 nos Estados Unidos. No Brasil, os valores giram em torno de R$ 10. Em alguns casos, superam os R$ 12. Somente ferrovias ligadas a mineradoras têm custo inferior, porque o frete faz parte da operação e, portanto, sai a preço de custo.

Para sanar o problema o país teria de investir mais, diz. O Brasil gasta apenas 1% do PIB em infraestrutura de transporte. Os demais Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) aplicam entre 4% e 5%.

A melhora do transporte ferroviário passa também pelos investimentos em obras pontuais, defende Vicente Amato, diretor adjunto da divisão de logística e transportes da Fiesp. Segundo ele, a construção do Ferroanel é a solução para a indústria paulista. Hoje, a carga que sai da região de Campinas rumo ao Porto de Santos é obrigada a compartilhar a rede com a movimentada linha de passageiros da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Com isso a operação fica limitada a poucos horários. Os estudos para elaboração do Ferroanel devem ficar prontos no mês que vem. Prevista para 2016, a obra está orçada em R$ 1,6 bilhão.

Segundo Amato, na região do Vale do Paraíba, a construção da Segregação Leste, trecho de 12 quilômetros em execução pela MRS, vai criar uma linha exclusiva para carga. (EB)

Jornal Valor on Line e Impresso  - Da Redação - 28 maio 2012

domingo, 27 de maio de 2012

ModaLohr - Ferrovia Luxemburgo Perpignan


Europa ganha a sua maior ferrovia, entre 

Luxemburgo e Perpignan, na França
 



Uma ferrovia, por onde devem ser transportados daqui até 2012 cerca de 300.000 caminhões por anos entre Luxemburgo e Perpignan, na França, foi inaugurada nesta quinta-feira em Bettembourg (Luxemburgo) pelos ministros francês e luxemburguês dos Transportes.

Esta nova estrada de ferro, a maior da Europa e com 1.060 km de cumprimento, transportará caminhões de carga em vagões articulados rebaixados fabricados pela Modalohr, uma empresa da alsaciana que dirigiu o projeto.

Depois das primeiras viagens de testes por todo o trajeto, a via férrea será aberta em julho para uso comercial. Ela deve evitar a cada ano a liberação de 240.000 toneladas de dióxido de carbono, principal responsável pelo aquecimento climático, comemorou o ministro dos Transportes da França, Dominique Perben.

"Esta linha vai, além disso, desafogar o eixo do Rhône, um dos mais saturados da França, e melhorar a segurança rodoviária", acrescentou, anunciando "condições futuras" para Lille e Marseille, e sua conexão em rede com a estrada de ferro alpina que já liga Aiton a Orbassano (Itália).

O ministro também lembrou a construção de um novo trecho "atlântico" entre a Holanda e o sul da Ile-de-France, cujo itinerário está inscrito nos contratos do projeto 2007-2013 pelo valor de 170 milhões de euros.

"O objetivo é formar uma rede de estradas de ferro na França e, para conseguir, é preciso atingir o mesmo nível de confiança que o transporte rodoviário", indicou Perben.

A ferrovia Luxemburgo-Perpignan, a sétima a entrar em serviço na União Européia, será administrada pela Lorry-Rail, empresa comum à Caixa francesa de depósitos e consignações (42,6%), o grupo francês Vinci (19,9%), a SNCF, a Estradas de ferro luxemburguesas e a Modalohr (12,5% cada), e pela organização profissional Transporte e a Logística da França, que têm uma ação.

"Estamos seguindo uma lógica que consiste em utilizar o meio de transporte mais adequado do ponto de vista econômico e ecológico", disse Lucien Lux, ministro luxemburguês dos Transportes.

Com um trem de 20 vagões duplos com capacidade para 40 caçambas de caminhões por dia em julho, a freqüência das viagens deve passar a 15 daqui a cinco anos.

Os trens sairão todos os dias de Luxemburgo no fim da tarde para chegar a Perpignan no início da manhã do dia seguinte e sair novamente rumo ao Norte no fim da tarde, segundo a Rede Férrea da França.

"A tarifa média de 0,90 euro por km e por caçamba para um cliente regular será menor que pela estrada, que chega a 1,05 euro", segundo o presidente da Modalohr, Philippe Mangeard. "Além de mais barato, o trem será mais rápido: 15 horas de trajeto contra 17 a 22 horas pela estrada", acrescentou, lembrando ter identificado "mil clientes potenciais".

A conexão demandou investimentos de 54 milhões de euros, entre os quais 31 milhões para a infra-estrutura e 23 milhões para a compra dos vagões e o início das operações.
AFP - Agencia France Presse   -   29 março de 2007



MODALOHR - Vagão carrega Semi Reboque

Revolucionario Vagão porta Carreta - Modalohr



 Assista os videos da Modalohr revolucionário sistema de carregamento de semi reboque rodoviario sobre vagões ferroviario tipo canguru desenvolvido pela Groupe Lohr Industrie da fabricante de VLT sobre Pneus na França, que esta sendo implantado nas ferrovias do Mercado Comum Europeu ideal para trafegar em ferrovia eletrificada para que os semi reboque  não alcance a rede elétrica e ideal para trafegar em ferrovia com tuneis de baixa altura de gabarito e os semi reboque tenham quando carregado sobre vagões plataforma baixo centro de gravidade, a plataforma é movel permitindo a facil movimentação dos semi reboque em patios ferroviario

Carlos Eduardo do Nascimento

                                      

                                       











regiões metropolitanas pedem mais mobilidade de cargas e pessoas




Abastecimento:

Regiões metropolitanas pedem mais mobilidade de cargas e pessoas


Centros de distribuição mais afastados e melhor fluxo urbano de transporte logístico são as necessidades mais urgentes, pontuam especialistas


São Paulo, a cidade que não pode parar, é uma máxima errada quando o assunto passa pela conjuntura da logística de abastecimento da capital. As dificuldades do segmento foram listadas no painel “Regiões metropolitanas: a ineficácia do abastecimento”, um dos paineis do 7º Encontro de Logística e Transportes da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).



Luiz Augusto de Camargo Ópice, diretor-adjunto do Deinfra/Fiesp

Na análise de Luiz Augusto de Camargo Ópice, diretor-adjunto do Departamento de Infraestrutura (Deinfra) da Fiesp, é necessário que os grandes centros de distribuição e armazéns que estão entravados dentro das grandes cidades sejam afastados das regiões metropolitanas. “Para isso", alertou, "é preciso implementar ações concatenadas entre os governos municipal, estadual e federal".

Ópice citou a Receita Federal como exemplo de instituição que poderia determinar regras de funcionamento de um porto seco. “Mas o órgão não pensa na questão da mobilidade e da racionalização dos modais; não há preocupação de como as cargas vão entrar e sair”, ressalvou.

Metrópole estendida


Renato Viegas, presidente da Emplasa

Renato Viegas, presidente da Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano (Emplasa), apresentou o Plano de Ação para a Macrometrópole (PAM), ainda em desenvolvimento. Bastante complexo por envolver todos os atores da cadeia produtiva, o plano busca configurar todos os elementos importantes para a logística e transporte.

“Neste plano [PAM], temos que confrontar as vantagens locacionais com as dificuldades que têm se apresentado, de fornecer uma rede de serviço e de infraestrutura que responda às necessidades desta região”, explicou Viegas. Ele adiantou que os objetivos do plano, de longo prazo, visam à identificação de fatores críticos, potencialidades e sinergias para alcançar o cenário desejado.

Além destas finalidades, Renato Viegas afirmou que o Plano de Ação para a Macrometrópole busca orientar as ações do setor público para o equacionamento de problemas de interesse comum. “Estamos na fase de estabelecimento de cenários, que envolveu 41 técnicos de todas as secretarias do Estado. Este trabalho deve ser concluído no final deste mês e será levado à Câmara de Desenvolvimento Metropolitano”, detalhou.

Mobilidade urbana ajuda


Douglas Tacla, vice-presidente
de operações e transportes da DHL

A logística movimenta cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) da maioria dos países, incluindo Estados Unidos e Brasil. Este dado, segundo Douglas Tacla, vice-presidente de operações e transportes da empresa multinacional de logística DHL representa, só em transporte de cargas no Brasil, a quantia de US$ 225 bilhões (5,8% do PIB).

“Estima-se que quase 10% deste montante (US$ 19 bilhões) é gasto anualmente em virtude de congestionamentos em regiões metropolitanas”, revelou Tacla, explicando que o valor é composto também pela falta de estacionamentos e estruturas logísticas no ato do recebimento das cargas pelo varejo.

Como solução, ele aponta a adoção de transporte ferroviário eficiente que englobe toda a região metropolitana de São Paulo, bem como investimentos em mais vias urbanas alternativas (a exemplo do Rodoanel) e mobilidade urbana entre as cidades-dormitório e os polos geradores de emprego.

Edgar Marcel, Agência Indusnet Fiesp

São Paulo 22 de maio 2012

Integração física da América do Sul





       Integração física sul-americana é tema do 

     encerramento do 7º Encontro de Logística




Infraestrutura

Palestrantes alertam sobre a urgente necessidade de o Brasil olhar mais para seus vizinhos

Na cerimônia de encerramento do 7º Encontro de Logística e Transportes, o destaque ficou com a apresentação do programa de integração física da América do Sul, agenda da União de Nações Sul-Americanas (Unasul).

Carlos Cavalcanti, diretor-titular do Departamento de Infraestrutura (Deinfra) da Federação das Industrias do Estado de São Paulo (Fiesp), disse que é preciso construir e sair do imobilismo. "O primeiro passo para a integração é despirmo-nos de um certo 'paulistacentrismo' ou 'Brasilcentrismo' e aceitarmos nossos vizinhos."

A embaixadora Maria Celina de Azevedo Rodrigues mostrou-se bastante preocupada com as políticas individualistas que atrasam a política integração: "Precisamos pensar a legislação brasileira com um olhar para fora." E provocou: "Falta-nos infraestrutura política e empresarial, pois um não funciona sem o outro".

Segundo Maria Celina, o governo deve criar marcos regulatórios, mas precisa da colaboração da iniciativa privada. Para ela, as empresas devem exigir que essa integração seja uma política de Estado e não de governo, a fim de firmar o caráter permanente.

A embaixadora disse ainda que, para que as obras de integração saiam do papel, é necessário mais do que financiamento governamental e da iniciativa privada – é necessário planejamento. Para tanto, segundo Maria Celina, é preciso aprender com o modelo da União Europeia para criação de locuções internacionais. "Temos que ter interesses em comum. Não há mais espaço para olharmos apenas para o nosso quintal. Devemos enxergar além das nossas fronteiras."

Integração é viável

Chefe da Coordenação-Geral de Assuntos Econômicos da América Latina e do Caribe do Ministério das Relações Exteriores, o ministro João Mendes Pereira afirmou que, pela primeira vez, há uma viabilidade real de concretizar o projeto de integração física da América do Sul.

Segundo Mendes Pereira, agora há interesse efetivo da iniciativa privada em colaborar. "Isso não é mais apenas um voluntarismo governamental. É importante lembrar que todos têm a ganhar com a integração, e não apenas o Brasil."

A apresentação mostrou ainda que o momento para integração da América do Sul é oportuno, pois a economia da região tem estado em constante crescimento. O principal objetivo da Unasul é ter uma unidade política solidificada e criar o conceito de nações-irmãs.

"Melhor que ser um país de 200 milhões de habitantes, é ser uma região de 400 milhões de habitantes", finalizou o diretor da Fiesp, Carlos Calvacanti.

Talita Camargo, Agência Indusnet Fiesp

São paulo 22 de maio de 2012

terça-feira, 22 de maio de 2012

Fiesp cobra planejamento integrado do governo



em abertura do 7º Encontro de Logística e 

Transportes da Fiesp - 2012



Para Paulo Skaf, todos os setores de logística de transportes são prioridade, dado o atraso em que o país se encontra no segmento de infraestrutura



A falta de planejamento integrado entre ministérios e agências do governo agrava a deficiente logística de transportes e afeta a competitividade brasileira, afirmou Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) após pronunciamento na abertura do 7º Encontro de Logística e Transportes da Fiesp.

“Muitas vezes, as áreas estadual e federal não se falam como deveriam. Por exemplo: na construção do último trecho do Rodoanel em São Paulo era a oportunidade de fazer também um ferroanel. Faltou diálogo com o governo estadual e o federal na época”.

O evento acontece nesta segunda-feira (21/05) e também nesta terça (22/05), no Hotel Unique, em São Paulo. Durante dois dias, empresários e autoridades participam de painéis e debatem os problemas de logística e transporte. O objetivo é buscar alternativas para desafogar gargalos em portos, aeroportos e rodovias, entre outros modais.

Paulo Skaf: 'Muitas vezes, as áreas estadual e federal não se falam como deveriam'

Na agenda das discussões estão previstos temas como marco regulatório para o setor, transporte marítimo e fluvial e aeroportos. Confira aqui a programação.

“Além dessas questões, nós temos outros itens que mexem com a competitividade brasileira, o caso dos juros, que estão baixando, e do câmbio, que deu uma melhorada. O governo deve continuar neste caminho”, acrescentou Skaf.

Para o presidente da Fiesp, todos os setores de logística de transportes são prioridade, dado o atraso em que o país se encontra no segmento de infraestrutura. “Nós atrasamos tanto, que agora tudo tem prioridade. Precisa atualizar o setor e acompanhar o momento. É necessário que isso aconteça. Caso contrário, sem dúvida, o crescimento e o desenvolvimento do país será prejudicado”, concluiu Skaf.

Cerimônia de abertura

Em seu discurso de abertura, o diretor-titular do Departamento de Infraestrutura (Deinfra) da Fiesp, Carlos Cavalcanti, afirmou que houve poucos avanços na logística de transportes desde o último encontro da Fiesp para debater problemas e desafios do setor no ano passado.

“As questões levantadas um ano atrás e as soluções apresentadas seguem pousadas em berço esplêndido”, disse. Segundo Cavalcanti, um planejamento integrado de entes públicos poderia reduzir os custos de logística. “A Fiesp estima, só para o setor industrial, a perda de R$ 17 bilhões por ano. No preço final do produto, isso representa muito mais, então o prejuízo para o consumidor final é muito maior.”

Alice Assunção, Agência Indusnet Fiesp

Brasil não tem planejamento logístico

Infraestrutura

Diretor do Deinfra da Fiesp alerta: 'Brasil não tem planejamento logístico'

Carlos Cavalcanti diz que não houve avanços significativos no país desde a 6ª edição do Encontro de Logística e Transportes da Fiesp


Carlos Cavalcanti, diretor-titular do Deinfra/Fiesp
Leia entrevista do diretor-titular do Departamento de Infraestrutura (Deinfra) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Carlos Cavalcanti, sobre alguns dos temas que estarão em discussão no 7º Encontro de Logística e Transporte. O evento da Fiesp acontece nestas segunda e terça-feira (21/05 e 22/05), no hotel Unique, em São Paulo.

O Encontro de Logística e Transportes chega à sua sétima edição. O que mudou do ano passado para cá? Quais os avanços?
Carlos Cavalcanti - Esse é o problema. Houve poucos, se é que houve algum. Mesmo políticas inovadoras, como a concessão dos aeroportos, estão com erros e procedimentos do ponto de vista do governo federal. Mas o problema central, já levantado pela Fiesp no 6º encontro, exatamente um ano atrás, muito no clima de uma expectativa positiva do início do governo da presidente Dilma Rousseff, ele se viu frustrado. Nossa expectativa um ano atrás era muito grande no sentido de que, quem introduziu o sistema de planejamento no setor elétrico brasileiro foi a então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, na reforma editada na passagem de 2003 para 2004. E o setor elétrico brasileiro tem um modelo de planejamento e de gestão considerado extremamente avançado por qualquer país do mundo.

Quais sãos os avanços do modelo de gestão do setor elétrico?
Carlos Cavalcanti – O setor elétrico brasileiro é capaz – através de sucessivos planejamentos realizados anualmente e que projetam os dez anos seguintes – de estabelecer uma política conjunta para os investimentos na área de energia. É possível prever as necessidades de aumento da oferta de energia do Brasil com anos de antecedência e tomar as ações para antecipar os investimentos, inclusive especificando quais fontes de energia serão responsáveis pelo aumento da oferta, quantas hidrelétricas, eólicas, portanto, quantos megawatts serão incorporados à capacidade da oferta de energia no Brasil. Tudo isso feito de uma forma unificada, controlada. E o setor elétrico brasileiro tem apresentado até folgas em termos de oferta e capacidade de transmissão de energia elétrica e ampliação da malha de distribuição. Como este modelo extremamente sofisticado está em vigor no Brasil já há bastante tempo, há mais de oito anos, era de se esperar que no setor de transportes nós tivéssemos o mesmo.

Quais são os principais problemas brasileiros na área de transportes?
Carlos Cavalcanti – Vou explicar: o porto não é uma unidade em si, ele tem problemas de acesso. E os acessos aos portos podem ser feitos de duas formas, por rodovia ou ferrovia. Pode até ser por hidrovia, mas é mais difícil. Não se pode falar da ampliação da capacidade portuária e da gestão da operação portuária sem falar do acesso. Não se pode falar da ampliação de um aeroporto sem falar como as pessoas chegam ou saem dos aeroportos. Também é fundamental o problema das estradas e do transporte público para chegar e sair dos aeroportos. Não se pode falar da ampliação da malha rodoviária no Brasil, independentemente de discutir a ampliação da malha ferroviária. O correto a se pensar em uma matriz de transportes é que tanto a coleta de mercadorias como a distribuição sejam feitas pelo sistema mais capilar, o sistema rodoviário. O eixo de transporte de um polo produtor para um polo consumidor tem que ser feito através de modais de transporte que sejam mais eficientes e mais competitivos, e que colaborem com a redução de emissões de gases de efeito estufa (e a própria poluição) porque nossa matriz de transportes está baseada em caminhões.


Cavalcanti: 'O correto a se pensar em uma matriz de transportes é que tanto a coleta de mercadorias como a distribuição sejam feitas pelo sistema mais capilar, o sistema rodoviário'
O que deve ser feito para articular a expansão do sistema?
Carlos Cavalcanti – Seria preciso que os que estão planejando a expansão de malha ferroviária e rodoviária, portos e aeroportos, além de hidrovias, se conversassem e se articulassem como fazemos no setor de energia. O ministério de Minas e Energia, a Empresa de Pesquisa Energética e a Aneel articulam a política de expansão de hidroelétricas, a política de expansão de usinas eólicas, de usinas térmicas, de usinas nucleares, enfim, aquilo que são “os modais de energia”, no caso do Brasil, no planejamento é integrado, e era de se esperar que seria isto a busca da eficiência que nós precisaríamos ter no setor de transportes.


Então, falta integração dos modais e um planejamento estratégico mais efetivo?
Carlos Cavalcanti - Falta planejamento para integrar e falta logística. Por isso nós fizemos uma ampla campanha de mídia dos anúncios deste encontro que é “Brasil: um país sem logística?”, para que a gente levante exatamente este problema da falta de planejamento, desta falta de integração. O que nós temos hoje são três ministérios cuidando do assunto no Brasil, algumas secretarias, várias agências reguladoras, e não há racionalidade nisso. Nós fizemos concessão de aeroportos sem discutir a ampliação de acesso a eles. Aumenta-se a capacidade, investe-se nos aeroportos - como nos três concessionados – bilhões de reais para aumentar a capacidade das pessoas chegarem ou partirem de avião. O problema é que as pessoas precisam chegar até o aeroporto. O problema é que as cargas precisam chegar ao aeroporto ou sair dele quando elas chegam por meio do modal aeroviário. E é a mesma situação nos portos.

Quais são os problemas nos portos?
Carlos Cavalcanti - Um dos painéis desse encontro recentemente realizado aqui em São Paulo, na Fiesp, é “Santos, um porto distante”. Por incrível que pareça, um porto que está a 60 ou 70 quilômetros da capital é um porto de corrida de obstáculos para chegar, por causa dos congestionamentos, das filas, pela ineficiência da infraestrutura, de operação; medidas práticas que a Fiesp tem levantado junto com a Firjan. Temos lá uma infraestrutura de mais de um século no porto de Santos e que funciona oito horas por dia. Porque os órgãos públicos, como Receita Federal, Anvisa e operadores não funcionam 24 horas. Quer dizer, você tem a capacidade com uma simples medida administrativa, que é dar eficiência para que este porto trabalhe, digamos, 16 horas, caso dos grandes portos do mundo que levam a sério seu comércio exterior, que levam a sério a atividade exportadora de sua economia. O navio não pode chegar às 18h10 e ficar esperando até o dia seguinte. E isso, se acontecesse até que não seria tão grave, mas no Brasil os navios esperam dias. E isso acontece porque evidentemente aquele que chegou antes faz a fila, e o porto funciona oito horas por dia. Não há operação de carga e descarga, não liberação alfandegária, não há inspeção sanitária para embarque e desembarque. Então o navio só pode ser carregado ou descarregado das 8h às 18h, e isso gera uma enorme ineficiência. Isso é um desperdício brutal e criminoso da infraestrutura que custou ao cidadão brasileiro construir neste país. Há outras situações como essa, que provocam que a indústria brasileira, absolutamente inovadora, tenha investido no melhor dos meios de produção, do sistema, das máquinas para produzir, ela produz com muita competitividade porque ela tem dentro da fábrica uma preocupação lógica empresarial, que se perde na hora em que se abre o portão da fábrica e a mercadoria começa a percorrer seu caminho para o consumo. Seja no Brasil, seja no exterior.

Quais são os prejuízos decorrentes deste cenário?
Carlos Cavalcanti - São imensos. A ineficiência assim como a corrupção geram prejuízos. Então, a transparência é algo fundamental. Estamos trazendo para este seminário o Tribunal de Contas da União (TCU), que tem tido uma atuação fundamental na fiscalização de obras. Eles vão mostrar números e metodologia, inclusive as mais importantes que são as preventivas, onde um determinado edital de licitação de uma obra em primeiro lugar passa por uma auditoria prévia antes de ser licitado do Tribunal de Contas. Nós vamos apresentar uma compilação de números muito forte no sentido de mostrar o trabalho do TCU que tem sistematicamente baixado o preço das obras, o que evita o desperdício e evita que paguemos mais do que aquilo vale e evite corrupção. Mas há os casos também em que durante a fiscalização, enquanto a obra está acontecendo ou depois de finalizada na sua prestação de contas, o TCU e a própria Advocacia Geral da União (AGU) investigam esses contratos e punem empresas e autoridades que fizeram a má gestão desses recursos.


Cavalcanti: A maior parte dos ativos de infraestrutura (portos, aeroportos, ferrovias, rodovias) se sustenta por meio de um regime de concessão. A obra não precisa ser feita pelo governo
Qual é a posição da Fiesp sobre o assunto?
Carlos Cavalcanti - O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, publicou recentemente um artigo escrito a quatro mãos com o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Eduardo Eugênio Gouvêa, no qual nós do setor privado e da indústria brasileira, representada pela Fiesp e pela Firjan pelos seus presidentes, estamos dizendo muito claramente à sociedade, diante de tudo que estamos vendo, que não adianta só atacar o funcionário público corrompido. Para todo corrompido é preciso haver um corruptor. E evidentemente esse corruptor está no setor privado. E nós não temos nada a ver com interesse de corruptores – esse recado é muito claro da Fiesp e da Firjan, que nós não pactuamos com o crime nem com práticas empresariais que, em última instância, são criminosas perante a sociedade. Este é um ponto que vamos tratar na abertura do 7º Encontro de Logística e Transporte na primeira palestra depois da sessão de abertura, com todas as letras, com toda a transparência, dizendo o compromisso da Fiesp e da Firjan no combate à corrupção que se dá – no caso a ser abordado neste encontro – no setor de infraestrutura do Brasil.

O combate à corrupção é uma proposta da Fiesp para a melhoria da eficiência e da competitividade?
Carlos Cavalcanti – Sim, e de toda a sociedade brasileira. Todos nós, brasileiros, precisamos dizer não à corrupção. Não é possível construir uma estrada que custe um centavo de real a mais do que o preço justo do seu edital de licitação, não é possível construir um aeroporto, qualquer obra pública. A corrupção é um custo porque é um dinheiro a mais que a gente paga. E este dinheiro sai de onde? Não é da máquina da Casa da Moeda, que imprime o dinheiro. Sai dos impostos que a sociedade recolhe através do recolhimento dos impostos nos salários e de tudo que consumimos. A sociedade brasileira precisa se indignar com a corrupção, precisa estar muito atenta em relação a isso e não admitir práticas duvidosas de nenhum governo, de nenhum dos 26 governos estaduais, de nenhuma das mais de seis mil prefeituras brasileiras e do Governo Federal em seus mais de trinta ministérios. Esta situação é fundamental como alerta para a sociedade. E nós estamos deixando muito claro e esta declaração-compromisso do presidente da Fiesp, Paulo Skaf, foi muito clara. Repito: para todo ato de corrupção existe o corrompido e o corruptor. E esse corruptor muitas vezes está no setor privado. Nós, que representamos a parte do setor privado que é a indústria, temos compromisso com o combate à corrupção.

Com o senhor vê o modelo de concessões no Brasil?
Carlos Cavalcanti – A maior parte dos ativos de infraestrutura (portos, aeroportos, ferrovias, rodovias) se sustenta por meio de um regime de concessão. A obra não precisa ser feita pelo governo. O governo, que tem o poder de construir esses empreendimentos, pode e deve transferir ao setor privado a responsabilidade do investimento para construir esses novos bens que depois ficam para a sociedade. Mesmo que o investidor construa uma nova estrada, um novo porto ou uma nova ferrovia, ele constrói, explora comercialmente aquilo por um determinado tempo e, depois, no final do contrato no prazo estabelecido, aquilo vem pra sociedade, que retorna para o Estado, para o país, não é mais do empreendedor. Discutiu-se muito no Brasil se nós privatizamos aeroportos, mas a Constituição proíbe a venda de aeroportos, que são bens públicos no Brasil. Ninguém vendeu o aeroporto, ninguém vendeu “fatias” da Infraero, o que fizemos foi uma concessão por um tempo limitado. O aeroporto de Guarulhos foi concessionado por 20 anos, o aeroporto de Brasília por 25 anos e o de Viracopos, 30 anos. Tempos diferentes. Significa que esses novos concessionários vão administrar esses empreendimentos e depois vão embora, como acontece no caso das hidrelétricas, da energia. Esses projetos, para serem construídos e administrados, quanto menos interferência do governo como investidor e como gestor, melhor é para o Brasil, porque os impostos que arrecadamos, em vez de construir portos e aeroportos, vão para a construção de escolas, hospitais, remunerar policiais na rua que cuidam da nossa segurança. Vão construir bibliotecas, teatros, outros equipamentos necessários à vida; preservar parques, implementar áreas verdes nas cidades. Nós queremos um governo forte na regulação para estabelecer regras. Não se faz duas rodovias paralelas para haver concorrência no preço do pedágio, isso não acontece. De São Paulo ao Rio de Janeiro você faz uma, de São Paulo ao Paraná você faz outra, de Curitiba a Florianópolis faz outra. O setor de infraestrutura opera naquilo que se chama monopólio natural e, quando se transfere a gestão para o setor privado, é preciso tomar cuidado porque ele vai querer o maior lucro possível, e é preciso controlar esse apetite pelo lucro do setor privado, estabelecendo a defesa do consumidor, que é estabelecendo tarifas e preços para a utilização dos serviços que não sejam abusivos. É preciso saber se aquele plano de investimentos, que foi comprometido, que foi acertado no momento de uma concessão, está acontecendo, na qualidade e no prazo em que foi combinado. Então há um enorme espaço para o governo no sentido de governar, no sentido de regular, no sentido de disciplinar e controlar. O governo não precisa ter empresas estatais para operar rodovias ou para construir portos e aeroportos.

Qual sua analise sobre a recente concessão dos aeroportos de Guarulhos, Brasília e Campinas?
Carlos Cavalcanti – Fizemos a forma correta que foi passar a gestão dos aeroportos para a iniciativa privada com uma mudança grave e ruim: ao contrário do setor elétrico, ao contrário do que se fez em rodovias federais no Brasil, inclusive quando o setor elétrico era comandado pela então ministra Dilma Rousseff e quando a modelagem da concessão de rodovias foi definida por ela, a adoção do critério de menor tarifa que ela então colocara agora foi abandonado nos aeroportos. Isso preocupa demais a Fiesp. Quem viu nos jornais notícias sobre o ágio no leilão lembra o quanto se ofereceu a mais do preço mínimo do preço dos aeroportos. Esse é um dinheiro que encarece o serviço e que vai ser arrecadado pelo Estado. Quanto maior o ágio, mais caro fica o serviço para o usuário. Este ágio é o que o governo recolhe pela cessão. Agora, como é que funciona no setor de energia e como é que funciona quando se faz pedágio por menor tarifa? Coloca-se no leilão outro critério: na operação do aeroporto, qual é a menor tarifa que vai ser dada ao cidadão que está embarcando e para a pessoa que precisa operar ou desembarcar uma carga? Percebe-se uma diferença brutal. Aqui quem ganha com a menor tarifa é toda a sociedade, é o usuário. Lógico que o governo errou e nós vamos discutir. Porque é um imposto disfarçado. Só o governo arrecada, a população não se beneficia. Então, quando isso acontece, contribui-se para aumentar o custo de produção e de operação na economia brasileira. Em vez de ter uma rodovia mais barata, vai haver uma ferrovia mais cara, um porto mais caro. Isso não é do preço do produto, isso diminui a capacidade de consumo e da própria competitividade do Brasil em relação a outros países do mundo.


Cavalcanti: 'Os investimentos em infraestrutura no Brasil são inferiores ao aumento da demanda porque não há planjeamento'
E como está o Brasil com relação à infraestrutura, em comparação a outros países?
Carlos Cavalcanti - Depende do país. Em relação aos países mais desenvolvidos, nossa infraestrutura é péssima. Comparando com alguns países muito mais pobres que o nosso, a infraestrutura do Brasil é adequada. Compare internamente a infraestrutura que existe em São Paulo com a de outros estados do Brasil. Em geral o Brasil tem, em um índice de 1 a 5 do Banco Mundial, um número de infraestrutura pouco abaixo de 4, que é um bom status. O Brasil tem infraestrutura, o problema é o investimento da infraestrutura brasileira foi feito muito concentrado nos anos 70 e 80, depois disso entrou num processo enorme de estagnação de investimentos por falta de investimento do Estado, que não teve a capacidade de partir para um processo de concessões. Quando esse processo começou a deslanchar no final dos anos 90, algumas situações melhoraram.

Os investimentos são inferiores ao aumento da demanda?
Carlos Cavalcanti – Sim, são inferiores porque não tem planejamento. Imaginem se descobríssemos em 2017 que nós não tínhamos feito as usinas para garantir a energia elétrica para o consumo do Brasil neste ano. O que iria acontecer? Ficaríamos às escuras, haveria racionamento de energia como tivemos em 2001 e 2003. Às 18h, apaga-se a luz, desliga-se a televisão, param a fábrica para racionar energia para o brasileiro tomar banho quando chega em casa. O Brasil, nas projeções da FAO (Food and Agriculture Organization), terá que dobrar a produção de alimentos até 2050 para dar comida à população mundial, que será de 9 bilhões de habitantes. E o único país que tem as três condições – território, água e clima – é o Brasil. O que vai acontecer com a logística brasileira se não atentarmos a isso? Não adianta só a fazenda produzir a soja, por exemplo. E daí? O que fazemos no Brasil hoje?

Como é a situação atual no transporte dessa produção?
Carlos Cavalcanti – Produzimos soja no coração da América do Sul, na nossa fronteira com Bolívia e Paraguai, no centro-oeste brasileiro, e exportamos soja via caminhão descendo até o estado do Paraná, no sul do Brasil, para exportar pelo porto de Paranaguá. Nós somos loucos! A soja dá a volta pelo sul do continente, desce a costa brasileira, desce o litoral da Argentina, passa do Atlântico para o Pacífico, e começa a subir de novo até o Chile para embarcar para os mercados da Ásia. Do coração da América do Sul, no centro-oeste brasileiro, estamos a 1.000 quilômetros em linha reta dos portos do Chile e do Peru, e não temos uma rodovia ou ferrovia que nos una. Obviamente que estamos trabalhando com outros países da América do Sul, fizemos recentemente um seminário importantíssimo. Então, essa volta toda que se dá somam 7.000 quilômetros, quando a distância poderia ser sete vezes menor. Isso é logística, é pensar no escoamento da produção brasileira. Será que o número de passageiros entre São Paulo e Rio de Janeiro vai aumentar também? Muito provável que sim. E será que paulistas visitarão o Rio de Janeiro e vice-versa? É possível prever, como é que se encara este problema? Precisamos de mobilidade. O quanto podemos aumentar a capacidade de pousos e decolagens entre Rio e São Paulo? Nada. Quantas pistas é possível aumentar nas rodovias Ayrton Senna ou Dutra? Mas isso, o ministério dos Transportes não fala com a ANTT, o porto não fala com o aeroporto, e aí não se tem esse planejamento no Brasil. E esse é o alerta da Fiesp.

Edgar Marcel e Nina Proci, Agência Indusnet Fiesp

São paulo 21 maio 2012

7º Encontro de Logística e Transportes - FIESP



7º Encontro de Logística e Transportes 2012 - FIESP

O Brasil possui condição bastante favorável em relação à maioria dos países, apresentando perspectiva de crescimento econômico com taxas entre 4% e 6% para a próxima década.

Para suportar esse ritmo de crescimento serão necessários investimentos vultosos para ampliar a infraestrutura e eliminar gargalos existentes. A participação do setor privado neste processo será imprescindível, uma vez que o setor público não terá condições de arcar sozinho com esse grande esforço.

Para garantir um crescimento consistente e sustentável, é fundamental assegurar a ampliação e modernização da infraestrutura de transportes, promover a integração racional dos seus diversos modais, agregar qualidade e reduzir os custos logísticos na movimentação dos nossos produtos.

O planejamento eficaz e o aperfeiçoamento do marco regulatório do setor de transporte são fatores imprescindíveis neste processo, necessários para consolidar um ambiente que proporcione transparência, equilíbrio e segurança jurídica a todos os agentes que atuam no setor.


É neste contexto que a Fiesp promove o 7º Encontro de Logística e Transportes, com o objetivo de elaborar juntamente com a participação dos diversos agentes do setor, propostas de programas e de políticas públicas para o setor de transporte do Estado de São Paulo e do Brasil, que sejam relevantes para o crescimento sustentável do país e para tornar o setor produtivo brasileiro mais competitivo.

Sobre o evento


A evolução dos sistemas de transportes, considerando-se a baixa capacidade da infraestrutura existente, a necessidade de aperfeiçoamentos e de adequações no marco regulatório e os altos custos praticados na prestação de serviços, não tem acompanhado o crescimento do setor produtivo brasileiro, que clama:


  • Pela efetiva retomada da atividade de planejamento no setor;
  • Por soluções dos gargalos estruturais e pelo aumento da eficiência;
  • Pela ampliação da rede logística de transportes, consolidando as rotas de exportação e a integração regional na América do Sul;
  • Pela prática da modicidade tarifária e da sustentabilidade na prestação dos serviços;
  • Pela efetiva participação do setor privado nos investimentos e na prestação dos serviços;
  • Pelo aperfeiçoamento normativo e institucional necessários para consolidar um ambiente regulatório com transparência, equilíbrio e segurança jurídica a todos os agentes do setor, inclusive o usuário.

Participe do debate com as principais personalidades que influenciarão nas decisões sobre essas questões.

Novo Eldorado em MG

Manabi prevê investir US$ 4,1 bi até 2016


O plano de negócios prevê investimentos de US$ 4,1 bilhões até 2016, para montar um projeto de duas minas de ferro em Morro do Pilar e Morro Escuro, em Minas Gerais. O empreendimento inclui um terminal portuário em Linhares (ES).

Para sustentar financeiramente esse plano, a Manabi planeja fazer uma oferta inicial de ações (IPO) ao mesmo tempo no Brasil, Estados Unidos e Canadá. A operação será inteiramente primária. Na parte brasileira da operação, a empresa se listará no Novo Mercado e emitirá também ADRs para investidores americanos. Já na parte canadense, emitirá recibos globais de ações (GDRs).

Apesar de já ter enviado o pedido de análise à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) na semana passada, a Manabi deve esperar ainda alguns meses para concretizar sua oferta de ações, dado o fraco apetite dos investidores com o cenário de incertezas na economia internacional.

"Com o aumento da aversão ao risco, só vai tentar captar na bolsa quem está precisando de muito do dinheiro. Quem puder, vai esperar um momento mais oportuno se não quiser um desconto no preço estimado para as ações", avalia Flavio Leoni Siqueira, sócio do Leoni Siqueira Advogados.

O projeto da Manabi é lançado em uma hora de muitas incertezas sobre os rumos da economia global: crise dos países da zona do euro, desaceleração da China, maior mercado de minério de ferro no mundo - e retomada econômica lenta dos EUA. Há um grande excesso mundial de oferta de aço e uma legião de novos projetos de minério de ferro - no Brasil, na África e na Austrália.

No Brasil, conforme dados do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), novas minas e projetos de expansão anunciados levariam até 2015 a produção do patamar atual de 400 milhões para 770 milhões de toneladas. Somente Vale e CSN ofertariam cerca da metade desse excedente. Além delas, há MMX, Anglo American, Usiminas, ArcelorMittal, Bamin e Ferrous, dentre outros grupos.

Estudos de consultorias e bancos especializados apontam superávit na oferta no mercado transoceânico a partir de 2013, após três anos de déficit. Esse fator terá peso nos preços futuros da matéria-prima do aço. De mais de US$ 200 a tonelada no mercado à vista chinês, antes da crise de 2008, a cotação desabou em 2009, recuperou-se em 2010, para US$ 185, e no ano passado, com o cenário de crise e desaceleração chinesa, caiu a US$ 116. Atualmente, o minério oscila entre US$ 130 e US$ 140.

Esse é, ainda, um bom patamar de preço. Todavia, está amarrado no potencial de demanda chinesa pela matéria-prima. Outros grandes mercados estão estagnados ou em queda: Japão e Europa. Metade da exportação brasileira vai a China. Algumas projeções otimistas apontam o minério em torno de US$ 120 a tonelada daqui um ano. As mais negativas já indicam a faixa de US$ 80.

O projeto da Manabi, no Quadrilátero Ferrífero de Minas, tem nos seus estudos preliminares de viabilidade, conforme o prospecto, jazidas que abrigam, juntas, 1,5 bilhão de toneladas de recursos inferidos e cerca de 2 bilhões em potencial exploratório.

A expectativa é de que as minas comecem a operar até o fim de 2016, com produção estimada de 31 milhões de toneladas por ano. A qualidade do minério, diz, é elevada, com teor de ferro de 68,5% - a título de comparação, o minério da Vale, considerado "premium" e negociado com ágio em relação à média, tem um teor de ferro de 66%. A Manabi almeja justamente o mercado "premium"..

Conforme o plano de negócios, a mina de Morro do Pilar, com o maior potencial de produção - 25 milhões de toneladas ao ano - será voltada para o mercado externo. O produto será escoado pelo Polo Norte: terminal portuário de 1,2 mil hectares e 6 km de costa, a ser construído em Linhares.

A ligação entre a mina e o porto será feita por um mineroduto de 503 km, cuja construção deve ser terceirizada. No prospecto, a empresa afirma que está em negociação com construtoras para o projeto. A Manabi pagaria uma taxa pela utilização da estrutura.

Outra opção avaliada pela empresa é utilizar a Estrada de Ferro Vitória a Minas, da Vale. Essa possibilidade, se negociada com sucesso, demandaria a construção de um mineroduto de 107 km ligando a mina aos trilhos da EFVM e mais uma ferrovia de 80 km, para completar o percurso até o porto.

A mina de Morro Escuro, por sua vez, apta a fazer 6 milhões de toneladas/ano, prevê atendimento do mercado interno, como as siderúrgicas da região de Itabira (MG). Segundo a empresa, dada a proximidade, não há necessidade de construção de estrutura de escoamento. Prevê modal rodoviário ou ferrovias da região.

A Manabi foi criada em março de 2011, por Ricardo Antunes Carneiro Neto, que trabalhou 22 anos na Vale e foi co-fundador da LLX e da MMX, controladas do grupo EBX. Em junho, a empresa levantou R$ 759 milhões em uma oferta privada de ações feita nos Estados Unidos, que permitiu a entrada de estrangeiros, predominantemente canadenses.

Hoje, a Fábrica Holdings, fundo de investimentos liderado por Carneiro, tem 60% das ações ordinárias da companhia e 19,13% do capital total. Michael Vitton e Mathew Goldsmith, canadenses que participaram da fundação da HRT e tiveram passagem pelo conselho da MMX, detém 20% das ações votantes e 7% do capital total cada um.

O fundo de pensão dos professores de Ontario tem 21% do capital total e o fundo soberano da Coreia do Sul, 12,5%. Fundos geridos pela Southeastern Asset tem mais 13% do capital.

Fonte:  Jornal Valor Econômico

Publicada em:: 21/05/2012