Manabi prevê investir US$ 4,1 bi até 2016
O plano de
negócios prevê investimentos de US$ 4,1 bilhões até 2016, para montar um
projeto de duas minas de ferro em Morro do Pilar e Morro Escuro, em Minas Gerais. O empreendimento inclui um terminal portuário em Linhares
(ES).
Para sustentar financeiramente esse plano, a Manabi planeja fazer
uma oferta inicial de ações (IPO) ao mesmo tempo no Brasil, Estados
Unidos e Canadá. A operação será inteiramente primária. Na parte
brasileira da operação, a empresa se listará no Novo Mercado e emitirá
também ADRs para investidores americanos. Já na parte canadense, emitirá
recibos globais de ações (GDRs).
Apesar de já ter enviado o pedido de análise à Comissão de Valores
Mobiliários (CVM) na semana passada, a Manabi deve esperar ainda alguns
meses para concretizar sua oferta de ações, dado o fraco apetite dos
investidores com o cenário de incertezas na economia internacional.
"Com o aumento da aversão ao risco, só vai tentar captar na bolsa
quem está precisando de muito do dinheiro. Quem puder, vai esperar um
momento mais oportuno se não quiser um desconto no preço estimado para
as ações", avalia Flavio Leoni Siqueira, sócio do Leoni Siqueira
Advogados.
O projeto da Manabi é lançado em uma hora de muitas incertezas sobre
os rumos da economia global: crise dos países da zona do euro,
desaceleração da China, maior mercado de minério de ferro no mundo - e
retomada econômica lenta dos EUA. Há um grande excesso mundial de oferta
de aço e uma legião de novos projetos de minério de ferro - no Brasil,
na África e na Austrália.
No Brasil, conforme dados do Instituto Brasileiro de Mineração
(Ibram), novas minas e projetos de expansão anunciados levariam até 2015
a produção do patamar atual de 400 milhões para 770 milhões de
toneladas. Somente Vale e CSN ofertariam cerca da metade desse
excedente. Além delas, há MMX, Anglo American, Usiminas, ArcelorMittal,
Bamin e Ferrous, dentre outros grupos.
Estudos de consultorias e bancos especializados apontam superávit na
oferta no mercado transoceânico a partir de 2013, após três anos de
déficit. Esse fator terá peso nos preços futuros da matéria-prima do
aço. De mais de US$ 200 a tonelada no mercado à vista chinês, antes da
crise de 2008, a cotação desabou em 2009, recuperou-se em 2010, para US$
185, e no ano passado, com o cenário de crise e desaceleração chinesa,
caiu a US$ 116. Atualmente, o minério oscila entre US$ 130 e US$ 140.
Esse é, ainda, um bom patamar de preço. Todavia, está amarrado no
potencial de demanda chinesa pela matéria-prima. Outros grandes mercados
estão estagnados ou em queda: Japão e Europa. Metade da exportação
brasileira vai a China. Algumas projeções otimistas apontam o minério em
torno de US$ 120 a tonelada daqui um ano. As mais negativas já indicam a
faixa de US$ 80.
O projeto da Manabi, no Quadrilátero Ferrífero de Minas, tem nos
seus estudos preliminares de viabilidade, conforme o prospecto, jazidas
que abrigam, juntas, 1,5 bilhão de toneladas de recursos inferidos e
cerca de 2 bilhões em potencial exploratório.
A expectativa é de que as minas comecem a operar até o fim de 2016,
com produção estimada de 31 milhões de toneladas por ano. A qualidade do
minério, diz, é elevada, com teor de ferro de 68,5% - a título de
comparação, o minério da Vale, considerado "premium" e negociado com
ágio em relação à média, tem um teor de ferro de 66%. A Manabi almeja
justamente o mercado "premium"..
Conforme o plano de negócios, a mina de Morro do Pilar, com o maior
potencial de produção - 25 milhões de toneladas ao ano - será voltada
para o mercado externo. O produto será escoado pelo Polo Norte: terminal
portuário de 1,2 mil hectares e 6 km de costa, a ser construído em
Linhares.
A ligação entre a mina e o porto será feita por um mineroduto de 503
km, cuja construção deve ser terceirizada. No prospecto, a empresa
afirma que está em negociação com construtoras para o projeto. A Manabi
pagaria uma taxa pela utilização da estrutura.
Outra opção avaliada pela empresa é utilizar a Estrada de Ferro
Vitória a Minas, da Vale. Essa possibilidade, se negociada com sucesso,
demandaria a construção de um mineroduto de 107 km ligando a mina aos
trilhos da EFVM e mais uma ferrovia de 80 km, para completar o percurso
até o porto.
A mina de Morro Escuro, por sua vez, apta a fazer 6 milhões de
toneladas/ano, prevê atendimento do mercado interno, como as
siderúrgicas da região de Itabira (MG). Segundo a empresa, dada a
proximidade, não há necessidade de construção de estrutura de
escoamento. Prevê modal rodoviário ou ferrovias da região.
A Manabi foi criada em março de 2011, por Ricardo Antunes Carneiro
Neto, que trabalhou 22 anos na Vale e foi co-fundador da LLX e da MMX,
controladas do grupo EBX. Em junho, a empresa levantou R$ 759 milhões em
uma oferta privada de ações feita nos Estados Unidos, que permitiu a
entrada de estrangeiros, predominantemente canadenses.
Hoje, a Fábrica Holdings, fundo de investimentos liderado por
Carneiro, tem 60% das ações ordinárias da companhia e 19,13% do capital
total. Michael Vitton e Mathew Goldsmith, canadenses que participaram da
fundação da HRT e tiveram passagem pelo conselho da MMX, detém 20% das
ações votantes e 7% do capital total cada um.
O fundo de pensão dos professores de Ontario tem 21% do capital
total e o fundo soberano da Coreia do Sul, 12,5%. Fundos geridos pela
Southeastern Asset tem mais 13% do capital.
Fonte: Jornal Valor Econômico
Publicada em:: 21/05/2012
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