quinta-feira, 28 de junho de 2012

Ferrovias terão de renovar 5 mil km de linhas sem uso




O governo vai exigir que as atuais concessionárias de ferrovias recuperem 5 mil quilômetros de estradas de ferro que estão totalmente abandonados. Ao todo, as concessionárias terão de consertar 49 trechos de malha, um conjunto de obras que poderá custar até R$ 5 bilhões. A determinação da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) atinge, essencialmente, três das 12 empresas concessionárias que controlam a malha nacional: América Latina Logística (ALL), Transnordestina Logística e Ferrovia Centro-Atlântica.

Segundo a ANTT, dos 28 mil km de ferrovia que foram concedidos na década de 1990 pelo governo, 23 mil km possuem hoje algum tipo de operação comercial, embora a maior parte dessas linhas ainda tenha grande potencial para ampliar as atuais taxas de transporte de carga.

A ANTT vai exigir a recuperação dos trechos abandonados, porque avalia que muitos desses trechos passaram a ter demanda, mas estão em situação absolutamente precária, embora as concessionárias, por contrato, tenham assumido a obrigação de manter as suas malhas em plenas condições de uso.

É o caso, por exemplo, do trecho paulista localizado entre os municípios de Pradópolis e Barretos. Nesse corredor de 131 km, diz Marcus Expedito Felipe de Almeida, gerente de transporte ferroviário de cargas da ANTT, existe hoje uma forte procura para viabilizar o escoamento de cana, açúcar e álcool. "Outro trecho que vive essa mesma situação está localizado entre as cidades de Tupã e Adamantina. São mais 72 quilômetros de ferrovia que precisam ser recuperados para atender uma demanda que já existe."

O fato de existir demanda ou não nos trechos, porém, não desobriga as concessionárias de reformar as estruturas abandonadas, segundo Fábio Coelho Barbosa, gerente de regulação e outorgas ferroviárias de cargas da ANTT. "A regularização da malha é uma exigência e isso não se discute. Ela terá que ser feita. Depois veremos se a concessionária tem interesse ou não em oferecer serviço logístico naquele trecho. Isso é outra discussão. E caso ela não queira a malha, a ferrovia ficará a total disposição do mercado", diz Barbosa.

A exigência de reformar 5 mil km de ferrovia poderia levar as concessionárias à decisão de, simplesmente, devolver esses trechos que não são utilizados. Para isso, no entanto, precisam pagar uma indenização que, pelos cálculos da ANTT, pode atingir o mesmo custo de recuperação da malha. "Estamos tomando todos os cuidados para garantir a viabilidade da ferrovia. Se a empresa quiser entregar o trecho, ela até pode, mas tem que pagar pelo custo de reforma. Não tem como escapar", diz Almeida.

A ANTT chegou a calcular, por exemplo, a devolução dos 334 quilômetros que ligam Barão de Camargos (MG) e Lafaiete Bandeira (MG), malha controlada pela Ferrovia Centro-Atlântica. Chegou-se à conclusão que a indenização atingiria R$ 600 milhões. "É praticamente o preço de recuperar a infraestrutura", diz Almeida. Nos cálculos da agência reguladora, cada quilômetro de malha a ser recuperada vai custar entre R$ 700 mil e R$ 1 milhão.

As imposições feitas às concessionárias fazem parte de uma série de mudanças que a ANTT prepara para o setor. A agência está prestes a mexer numa das áreas mais sensíveis do atual modelo de transporte de carga: as metas de transporte, as quais levam em conta o peso total da carga transportada por ano.

Pelo regimento que esteve em vigor até o ano passado, as concessionárias precisavam apresentar apenas uma meta de transporte, que se atrelava à extensão total de sua malha. Isso significa que bastava somar tudo o que foi transportado e dividir esse volume pela quilometragem total da malha concedida para chegar a uma média, embora se soubesse que a maior parte dessa carga trafegou em apenas alguns trechos da ferrovia.

O resultado prático dessa realidade é que, com a incapacidade da ANTT de fiscalizar todas as operações, as concessionárias atingiam a meta que haviam proposto, deixando de dar qualquer tipo de manutenção naqueles trechos que não utilizaram. "Agora isso acabou", diz Barbosa. "O modelo atual passou a exigir uma meta de transporte por trechos. Agora vamos saber exatamente o que está acontecendo em cada ponto da ferrovia."

Ao fatiar as estradas de ferro, a ANTT quer incentivar a entrada de outras empresas interessadas em aderir ao transporte pelos trilhos, situação que incomoda as atuais concessionárias, que até agora detêm a exclusividade das malhas que assumiram. A agência já tem nas mãos um levantamento detalhado da movimentação atual de cargas feitas em cada trecho das ferrovias concedidas. Esse material, que foi elaborado pelas próprias concessionárias, será agora confrontado com levantamentos internos da ANTT.

Em até 60 dias, diz Almeida, a agência divulgará quais serão as metas de transporte de cada trecho que as concessionárias terão de cumprir entre 2013 e 2017. Se uma concessionária não bater a meta estipulada, pode sofrer multas pesadas e, na persistência dos problemas, pode até ter a concessão cassada pela agência reguladora.

 Jornal Valor   28 junho 2012

Operadoras de contêineres aumentam uso de ferrovia


 


As principais companhias de operação de contêineres no porto de Santos começam nos próximos dias a implementar acordos para aumentar o transporte de cargas por via ferroviária.

Além de tentar driblar o trânsito de caminhões no acesso aos terminais, as medidas visam garantir maior segurança e velocidade na movimentação dos contêineres.

"Com novos terminais e a modernização de navios e equipamentos, os contêineres vão do mar para a terra rapidamente, mas as vias de acesso congestionaram de vez", diz José Luis Demeterco, presidente da Brado Logística, braço da ALL no setor.

Nos próximos cinco anos, a Brado, que mantém parcerias com a Libra e a Santos Brasil, investirá R$ 1 bilhão em infraestrutura e equipamentos ferroviários, sendo cerca de 50% nas rotas que passam por Santos.

"Teremos uma nova linha em janeiro, com a inauguração do terminal em Rondonópolis (MT)", diz Demeterco.

Para a Santos Brasil, a linha até Rondonópolis permitirá o transporte de mais cargas. "Além do investimento de R$ 6 milhões neste ano, pretendemos redesenhar nosso pátio ferroviário em 2013", diz Mauro Salgada, diretor da companhia.

A Libra, por sua vez, começa amanhã a realizar o transporte ferroviário de contêineres entre Santos e Campinas.

A companhia prevê a movimentação de 24 mil contêineres até o final do ano.

 Fonte: A Folha

Qui, 28 de Junho de 2012 06:54


Noticiário cotidiano - Portos e Logística 


Transnordestina terá ligação com a Ferrovia Norte-Sul


O governo concluiu os estudos de viabilidade técnica de uma conexão entre as ferrovias Transnordestina e Norte-Sul, as duas maiores do País em construção. A proposta é muito importante para criar, no futuro, uma malha ferroviária nacional, o que possibilitaria, por exemplo, uma carga chegar da China ao Porto de Suape e ser enviada de trem até São Paulo, na primeira grande ligação por estrada de ferro entre o Nordeste e o Centro-Sul brasileiro. O projeto está com a Valec, estatal federal de ferrovias, que submeterá a papelada ao crivo de órgãos ambientais. A expectativa é de que em até 8 meses a versão básica fique pronta, com traçado e custos detalhados. 

O projeto é de longo prazo, tendo em vista que a Transnordestina e a Norte-Sul estão em obras e, ainda por cima, atrasadas. O estudo foi incluído no Programa de Aceleração do Crescimento 2 (PAC 2), do governo Dilma Rousseff. 

A informação básica para iniciar o que se chama de análise de viabilidade técnica econômica e ambiental da conexão foi o ponto a partir do qual as ferrovias vão ser interligadas. Pelo lado da Transnordestina, a conexão começará no município de Eliseu Martins, sul do Piauí, e seguirá em direção a oeste até encontrar a Norte-Sul, na altura da cidade de Estreito, interior do Maranhão. 

A assessoria de imprensa da Valec informou que a estatal trabalha na validação dos números do estudo de viabilidade, que tratam de topografia e potencial de cargas, por exemplo, para definir pontos importantes, como locais de instalação de plataformas logísticas, onde ocorrerá a carga e descarga dos vagões. Depois disso, o projeto passará pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais (Ibama), para obter o licenciamento, fase em que será discutido em audiências públicas.

A Transnordestina e a Norte-Sul são os principais projetos ferroviários do Brasil incluídos no primeiro PAC, em 2007, no governo Luiz Inácio Lula da Silva. Ambos atrasaram bastante. 

A ferrovia Transnordestina terá 1.728 quilômetros e unirá o Sertão do Piauí ao litoral de Ceará e Pernambuco. Os trilhos começam em Eliseu Martins (PI) e seguem até Salgueiro, em Pernambuco, seguem por dois ramais diferentes, um em direção ao Porto de Pecém, no Ceará, e outro rumo ao Porto de Suape. Todo o conjunto, pelo prazo original, sairia em 2010, mas a ferrovia tem apenas 36% executados, segundo o Ministério dos Transportes. 

Como as desapropriações ocorreram de forma mais ágil em Pernambuco, o ramal de Suape está mais adiantado do que o outro é esperado para o final do ano que vem. O que segue até Pecém deve sair apenas no final de 2014.
No caso da ferrovia Norte-Sul, foram incluídos no PAC 1.536 quilômetros entre Palmas, no Tocantins, até Estrela D’Oeste, em São Paulo. Assim como a Transnordestina, o governo anterior previa a conclusão da obra em 2010.
Pelos números do PAC 2, apenas um primeiro trecho, de Tocantins a Anápolis, em Goiás, deve sair até o próximo dia 20. O restante, até São Paulo, viria somente em 2014.

O investimento total na Norte-Sul era estimado em R$ 3,37 bilhões, mas o valor já foi executado até 2010 e o custo atual do projeto está atualmente em revisão, informa o governo federal. 

Governo vai mexer em prazos - Depois de acumular atrasos no projeto e da presidente Dilma Rousseff garantir que não haveria mais mudanças no projeto da Transnordestina, o governo federal avalia novas mudanças em prazos e custos na ferrovia. O projeto bilionário é o mais caro do Brasil quando se trata de transporte ferroviário de cargas. As obras da Transnordestina começaram em 2007 e, depois de cinco anos, têm apenas 36% de execução. 

Em fevereiro passado, na primeira visita às obras da Transnordestina desde que assumiu a Presidência da República, a presidente Dilma afirmou que não haveria novos aumentos de custo no projeto. 

“Posso assegurar que o governo já fez várias avaliações econômico-financeiras sobre a ferrovia, e não pretende ficar elevando indefinidamente o orçamento. Sabemos que numa obra desse tamanho há sempre gastos não planejados, mas temos certeza de que nosso orçamento está bem próximo da realidade”, afirmou Dilma Rousseff, em fevereiro. 

A conversa mudou de tom, segundo o Ministério dos Transportes, ao confirmar ao JC que cogita novas alterações. “As possíveis alterações no orçamento e ou no prazo de conclusão ainda estão em fase de estudo”, informou o ministério, através de nota encaminhada pela assessoria de imprensa. 

O trecho mais adiantado e praticamente pronto, segundo dados coletados em abril pelo Ministério dos Transportes, é o de 96 quilômetros entre Missão Velha, no Ceará, e Salgueiro, em Pernambuco. Em seguida, vem um de 163 quilômetros de Salgueiro até Trindade. 

Mesmo nos trechos mais adiantados, quando se compara os dados atualizados do Ministério dos Transportes com o último balanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2), do final do ano passado, os pequenos atrasos que vão se somando na obra são perceptíveis. O trecho Missão Velha-Salgueiro deveria ter ficado pronto em março e o Salgueiro-Trindade, em abril. 

De todos, o mais atrasado é um trecho de 523 quilômetros entre Pecém e Missão Velha, que só teve iniciados, até agora, obras de infraestrutura (basicamente, terraplenagem) e as obras de arte especiais, como pontes. A última fase da construção de uma ferrovia é a colocação de trilhos, a chamada superestrutura, que ainda não teve início nesse trecho. 

A base da Transnordestina fica no município de Salgueiro, onde são produzidos os dormentes, a partir de uma mina de extração de brita no próprio município. De lá, o trem se encarrega de transportar o material nas três direções (rumo ao interior do Piauí, a Pecém e a Suape).

Jornal do Comércio  27 junho 2012

MT negocia empréstimo chinês de US$ 10 bi para ferrovia





O governador de Mato Grosso, Silval Barbosa (PMDB), assinou carta de intenção com o Banco de Desenvolvimento da China (CDB, na sigla em inglês) para construir uma ferrovia de Cuiabá a Santarém (PA).

O projeto prevê a construção de uma linha férrea paralela à BR-163, que liga as mesmas cidades e está sendo pavimentada. O trajeto é de cerca de 1.800 quilômetros.

Segundo o governo de Mato Grosso, o banco se comprometeu a emprestar US$ 10 bilhões. Em contrapartida, produtos e serviços terão de ser importados da China.

O próximo passo é um estudo de viabilidade do projeto. Ao menos duas empresas estão envolvidas --a ATI, uma holding de Hong Kong, e a estatal Empresa de Engenharia Ferroviária da China (Crec, na sigla em inglês).

Apesar do projeto ainda embrionário, o governo mato-grossense prevê que a obra fique pronta em cinco anos.

A viagem da comitiva a Pequim foi precedida de reuniões no Brasil nos últimos meses. Em uma deles, em setembro, Barbosa viajou de carro com representantes da Crec de Cuiabá a Santarém.

Liberação

"A ferrovia é a carta de alforria para os produtores de Mato Grosso", afirmou Carlos Fávaro, presidente da Aprosoja, que reúne aproximadamente 5.000 sojicultores. Ele integra a comitiva em Pequim.

Fávaro afirma que a BR-163 "já está nascendo estrangulada" em razão das poucas opções para o escoamento da safra.

O sojicultor afirma que o transporte do meio-norte do Estado até o porto de Santos custa entre US$ 100 e US$ 120 por tonelada. Esse valor cai para US$ 50 a US$ 60 com o escoamento via Santarém.

Caso o empréstimo se confirme, será o maior dado pela CDB ao Brasil, empatado com os US$ 10 bilhões concedidos à Petrobras em 2009.
O banco deve inaugurar escritório no Rio de Janeiro até o fim do ano.

Jornal :  Folha de S.Paulo  27 junho 2012

Sindicato defende padrão e corredor na marginal Tietê





DE SÃO PAULO

Ao contrário do início do ano, quando lutaram contra a restrição na marginal Tietê, empresas de cargas agora apoiam a medida na região metropolitana, desde que seja padronizada.

"Há restrição em 11 vias de Diadema, cujo horário não é compatível com o de Osasco nem com o de São Paulo", diz Manoel Sousa Lima Júnior, vice-presidente do Setcesp (Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas de SP).

"Temos de padronizar as restrições porque elas estão comprometendo o abastecimento", afirma.

"O primeiro interesse é a padronização. Falta convencer São Paulo, onde há impacto maior", diz Ana Lúcia Rodrigues de Carvalho, assessora da Emplasa.

Outra proposta do Setcesp que será debatida é a criação de um corredor para caminhões na pista expressa da marginal Tietê, entre a Anhanguera e Dutra. Temporário, o corredor seria desativado com o término Rodoanel norte, que faz a mesma ligação.

Jornal Folha de São Paulo  28 junho 2012 

Cidades pressionam Kassab para aliviar veto a caminhão



Prefeitos, Estado e Fiesp querem reduzir horários e liberar caminhões maiores 

Impactados por ações criadas na capital, 38 municípios da região metropolitana adotarão proibição padronizada
 

JOSÉ BENEDITO DA SILVA

DE SÃO PAULO

Cidades vizinhas de São Paulo, entidades empresariais, como a Fiesp, e o governo do Estado vão pressionar o prefeito Gilberto Kassab (PSD) a amenizar a restrição à circulação de caminhões.

A ideia é adaptar horários de proibição e tamanhos dos veículos liberados à restrição que será implantada nos outros 38 municípios da região.

Grupo de trabalho criado pela Secretaria de Desenvolvimento Metropolitano para padronizar medidas restritivas prevê que haja proibição das 6h às 9h e das 17h às 20h. Na marginal Tietê, é das 5h às 9h e das 17h às 22h.

Outro ponto acertado é que serão permitidos VUCs (veículos utilitários de carga) de até 7,20 m x 2,30 m -na capital, o limite é 6,30 m x 2,30 m.

A escalada de restrições adotadas por Kassab desde 2008 -visando melhorar o tráfego urbano- teve impactos nas cidades vizinhas e provocou reação em cascata.

Seis municípios adotaram a restrição após a iniciativa paulistana -cada uma com horário diferente, o que afeta o abastecimento da região.

A reação metropolitana visou impedir o uso de vias locais por caminhões em busca de rotas alternativas ou de estacionamentos à espera da liberação das vias na capital.

Em seis reuniões, o grupo, com prefeitos e representantes da Fiesp e sindicatos, não obteve consenso porque a Secretaria dos Transportes da capital não se comprometeu.

A pasta diz manter o representante e que "busca sempre aprimorar as medidas de regulamentação de trânsito".

PRESSÃO
 
A maior pressão sobre Kassab virá de Edson Aparecido, ex-secretário de Desenvolvimento Metropolitano, que criou o grupo e agora coordena a campanha aliada de José Serra (PSDB) à prefeitura.

A pressão oficial deve ocorrer em agosto, na reunião do Conselho de Desenvolvimento Metropolitano, presidido por Kassab. "Vamos tentar um acordo", afirma o prefeito de Osasco, Emidio de Souza (PT), vice-presidente.
A medida será um teste para o órgão, criado em 2010. "É o primeiro grande tema que vai ser enfrentado de forma concreta", diz Souza. "É um teste positivo", avalia Ana Lúcia Rodrigues de Carvalho, assessora da Emplasa, empresa de planejamento do Estado que coordenou o grupo.

Para João Ricardo Guimarães Caetano, secretário-executivo do Consórcio Intermunicipal Grande ABC, que reúne as prefeituras da região, falta um plano de mobilidade metropolitano. "Não adianta uma cidade adotar medidas de reorganização do tráfego e a vizinha não adotar ou adotar uma diferente."

O ABC iria implantar a restrição em abril, mas decidiu levar o caso ao conselho. "As cidades são interligadas. Políticas restritivas têm de ser discutidas em conjunto",diz o prefeito de São Caetano do Sul, José Auricchio Jr. (PTB).

Jornal: Folha de São Paulo   28 junho 2012

terça-feira, 19 de junho de 2012

União investirá R$ 13 bilhões em novas ferrovias no Sul




O governo prepara uma grande ofensiva para expandir a malha ferroviária no Sul do país. Até o fim da semana, a estatal Valec anunciará a contratação de uma série de estudos de viabilidade e a realização de acordos técnicos para encampar a construção de 2,7 mil quilômetros de trilhos.

Esses estudos, que custarão R$ 30 milhões e deverão ser concluídos em até um ano, vão balizar a construção de quatro grandes trechos planejados pelo Ministério dos Transportes. O maior deles, entre as cidades de Panorama (SP) e Rio Grande (RS), prevê um investimento total de R$ 6 bilhões. Trata-se do último bloco que complementa o projeto da Ferrovia Norte-Sul. O edital para contratação dos estudos e projeto dessa malha foi publicado ontem.

Outros três traçados são prioritários para a ampliação da infraestrutura da região. O governo quer ligar por trilhos os 500 km que separam as cidades gaúchas de Carazinho e Uruguaiana, projeto que tem custo estimado em R$ 2,5 bilhões. No trecho entre Toledo (PR) e Maracaju (MS), a estimativa é de injetar mais R$ 2,1 bilhões em 420 km de linha. O edital desse traçado também foi publicado ontem.

O governo também quer viabilizar a construção da "Ferrovia do Frango". O projeto, que liga as cidades catarinenses de Chapecó e Itajaí, com aproximadamente 600 km de distância, está avaliado em R$ 3,1 bilhões. Somados todos os empreendimentos, o desembolso chegaria a R$ 13,7 bilhões.

A ideia é que 100% dos recursos saiam dos cofres públicos. Por trás da aplicação desse dinheiro está o fortalecimento da estatal Valec, que administra os empreendimentos da União. As novas ferrovias vão complementar a capacidade da malha que já existe na região e que hoje é operada pela América Latina Logística (ALL). Serão diretamente beneficiados os portos de Paranaguá (PR), São Francisco do Sul (SC), Itajaí (SC) e Rio Grande (RS).

Ontem, em visita a Chapecó, o ministro dos Transportes, Paulo Passos, disse que a meta do governo é expandir os atuais 29 mil quilômetros da malha nacional para 40 mil km até 2020. Segundo ele, estão previstos investimentos de R$ 200 bilhões em ferrovias até 2025, sendo R$ 33 bilhões na Região Sul.

Jornal Valor Econômico  terça 19/06/2012

Novas ferrovias reforçam peso estatal no setor

 

  A estatal Valec vai construir os trechos, que serão oferecidos para diferentes empresas de logística quando estiverem prontos


     

A decisão do governo de se apoiar no investimento público para ampliar a malha ferroviária do país não é uma unanimidade no setor. Parte das empresas defende a tese de que muitos projetos andariam bem mais rápido e seriam menos onerosos aos cofres públicos se a União decidisse abrir mão dos empreendimentos e os concedesse à iniciativa privada.

O histórico da gestão pública nas ferrovias, de fato, não é muito favorável. Por 40 anos, a União foi dona da extinta Rede Ferroviária Federal (RFFSA), estatal que foi privatizada na década de 1990, depois de se transformar em um dos maiores escândalos de descaso com o dinheiro público do país. Até hoje ainda há bilhões de reais em dívidas não quitadas, boa parte delas decorrente de milhares de processos trabalhistas que não foram concluídos.


Com a Valec, no entanto, o governo aposta numa situação diferente. O plano é que, assim que esses novos trechos de malha estiverem prontos, a estatal ofereça-os para diferentes empresas de logística. Trata-se de uma mudança em relação ao modelo atual de concessão, que privilegia um único operador em cada ferrovia. É o que acontece, por exemplo, nos 719 quilômetros já construídos e em operação da Ferrovia Norte-Sul, entre as cidades de Palmas (TO) e Açailândia (MA). Desde 2007, a mineradora Vale tem exclusividade para utilizar esse percurso. Para isso, a empresa arrematou, com lance de R$ 1,478 bilhão, a exploração comercial pelo período de 30 anos.

O novo modelo de concessão - que é criticado pela Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), que representa as empresas de transporte de cargas do setor - quer acabar com esse monopólio, uma situação que, de acordo com o governo, tem dificultado a operação de outras empresas interessadas no mesmo trecho. As regras, que ainda não entraram em vigor, preveem o direito de passagem e tráfego mútuo, além de metas de produção por trecho e de segurança para as concessionárias.

As novas ferrovias terão impacto direto no transporte de cargas que é direcionado, principalmente, a quatro grandes portos da região: Paranaguá (PR), São Francisco do Sul (SC), Itajaí (SC) e Rio Grande (RS). Uma das preocupações do governo é fazer com que as novas linhas não tragam impacto negativo às malhas já construídas na região Sul.

No Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, quase todas as ferrovias foram concedidas para a empresa América Latina Logística (ALL). Um bom trecho dessas linhas, segundo José Eduardo Castello, presidente da Valec, está com o tráfego suspenso há anos. Outra parte estaria com capacidade ociosa.

De acordo com dados da ANTF, a ALL investe anualmente entre R$ 80 milhões e R$ 100 milhões só no Rio Grande do Sul para ampliar a capacidade da malha local. No ano passado, esse trecho da ferrovia foi responsável por 70% do volume movimentado no porto de Rio Grande.

"Estamos analisando diversas formas de interligação com a malha existente e vamos trabalhar de forma articulada, sem olhar as necessidades de um único Estado. A ideia não é prejudicar ninguém, mas melhorar aquilo que já existe", diz Castello. "Os estudos técnicos vão mostrar aquilo que pode ser utilizado como interligação e aquilo que precisa ser feito para apoiar o plano traçado. Não haverá sobreposição de malha, nem desperdício de dinheiro", complementa.

Desperdício de recursos é algo que já entrou para o currículo da Valec. Na Ferrovia Norte-Sul, revelou o Valor na semana passada, terá de ser gasto cerca de R$ 400 milhões a mais para consertar estruturas e trilhos que foram mal instalados. Trata-se de injetar dinheiro para arrumar algo que nunca foi utilizado. Além disso, a estatal terá que erguer uma série de pátios logísticos que constavam dos contratos firmados com empreiteiras, mas que não foram entregues.

Para evitar que os problemas se repitam nos novos projetos, diz Castello, a Valec vai firmar acordos de cooperação técnica com as universidades federais do Paraná e Santa Catarina. As parcerias têm o propósito de definir, especificamente, qual será o traçado da chamada "Ferrovia do Frango", planejada para ligar as cidades catarinenses de Chapecó e Itajaí.

 A participação da universidade paranaense deve-se à possibilidade de o traçado da ferrovia se ligar à linha férrea que hoje corta os Estados e que foi concedida a ALL. Com essa interligação, a carga transportada pela nova ferrovia ganharia a opção de chegar até o porto de Paranaguá, além dos terminais de Itajaí. "Não vamos privilegiar nenhum Estado, em específico, mas aquilo que é melhor para a logística nacional", comenta Castello, da Valec. Ontem, foi publicado no Diário Oficial da União o edital para contratação dos estudos técnicos da Ferrovia do Frango.

No ano passado, a movimentação de carga transportada pelos 29 mil quilômetros de ferrovias do país atingiu 475,1 milhões de toneladas. Para este ano, a previsão é chegar a 522 milhões, segundo estimativa da ANTF.

Ferrovia Norte-Sul é crucial para o crescimento do país, afirma presidenta Dilma


“Eu quero alertar o Brasil que nós voltamos a investir em ferrovias, que essa ferrovia é crucial para esse país crescer, que ela beneficia estados importantes da federação, e quando beneficia estados importantes como Goiás e Tocantins, beneficia o conjunto da federação”, afirmou Dilma.
Após percorrer seis quilômetros do trecho que liga Palmas (TO) a Anápolis (GO), e sobrevoar as obras da Extensão Sul da Ferrovia, a presidenta disse que optou por fazer uma reunião de trabalho no canteiro de obras do lote 1, ao invés de realizá-la em Brasília, pois dessa maneira é possível detectar rapidamente eventuais problemas e buscar as soluções.
“Poderíamos fazer [a reunião] em Brasília, mas o que percebemos é que ela não é tão real, tão efetiva. Quando nós chegamos aqui, falando com o governador, com o prefeito, mas sobretudo conversando com os empresários responsáveis por cada trecho, porque é esse o nosso objetivo aqui, ela não é uma visita política, é uma vista de trabalho, e descobrimos o que está faltando, o que pode ser solucionado”, afirmou a presidenta.

 Com 2.255 quilômetros de extensão, Dilma disse que a ferrovia Norte-Sul será a coluna vertebral do país.

“É como se fosse a coluna vertebral do Brasil que nós estamos construindo, daí a importância dela, de nós fazermos uma reunião de trabalho no lugar (…) eu saio de Brasília e venho aqui porque eu acredito que essa é a forma de fazer com que isso se acelere, com que isso se realize, e com que isso se multiplique”.
Participaram da visita às obras da ferrovia Norte-Sul e da reunião de trabalho os ministros dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, e do Planejamento, Miriam Belchior, além de representantes da Valec – Engenharia, Construções e Ferrovias S.A., empresa pública vinculada ao Ministério dos Transportes, responsável pela execução da obra.

 Video : Entrevista coletiva da presidenta Dilma após visita às obras da Ferrovia Norte-Sul 


Ministro dos Transportes estará em Chapecó nesta sexta-feira

 Na próxima sexta-feira (15), o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, estará em Chapecó, onde será palestrante no seminário “Ferrovias e Desenvolvimento Regional”. O evento, promovido pela Frente Parlamentar das Ferrovias do Congresso Nacional, presidida pelo deputado federal Pedro Uczai (PT/SC), vai reunir lideranças políticas e empresariais dos quatro estados que compõem o Conselho de Desenvolvimento do Sul (CODESUL) - Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso do Sul.

Para Santa Cantaria estão previstos três projetos ferroviários no PAC1 e PAC2, que são eles: a Ferrovia da Integração, de Itajaí a Dionísio Cerqueira, Litorânea e a Norte/Sul. Segundo o deputado Pedro Uczai, o seminário é o momento para reafirmar que a inserção do Sul do país no desenvolvimento Nacional passa necessariamente pelas ferrovias. “Embora os projetos ferroviários sejam de médio e longo prazo, eles são fundamentais para continuarmos desenvolvendo nossas regiões”, afirma Uczai.

Para Uczai, as ferrovias são estratégicas para o desenvolvimento e para a integração regional. “O transporte ferroviário é mais barato, mais seguro e ambientalmente sustentável. Além disso, as ferrovias mantêm as empresas nas regiões e atraem novos investimentos nas cidades por onde passam os trilhos, e ainda, melhoram as nossas rodovias”, destaca Uczai.
O evento acontece no auditório da Associação Comercial e Industrial de Chapecó (ACIC). São parceiros, além da ACIC, as frentes parlamentares das ferrovias dos quatro estados, as associações de municípios e as entidades empresariais e industriais.
PROGRAMAÇÃO:

14h – Abertura
14h30 – Palestra: “Ferrovias e o Desenvolvimento do país”

•    Palestrante: Paulo Sérgio Passos – Ministro dos Transportes

15h30 – Exposições de representantes de entidades

•    Coordenação: Dep. Federal Pedro Uczai, Presidente da Frente Parlamentar das Ferrovias

16h30 – Encaminhamentos Finais

17h – Encerramento

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Itapetininga, novo trecho esta sendo licitado



   Edital para nova linha férrea deve abrir em

60 dias em Itapetininga, SP

 

Processo de licitação será realizado pelo Dnit, e não mais pela Prefeitura.


Com novo trajeto, Centro ficará livre do tráfego pesado de trens.

Do G1 Itapetininga e Região
 

O edital para licitação do novo trajeto da linha férrea de Itapetininga (SP) deve ser aberto em até 60 dias. O novo processo vai definir qual será a empresa responsável pelas mudanças na cidade. A empresa escolhida terá um ano para entregar o projeto.

E a novidade é que quem será o responsável por realizar o processo de licitação será o Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (DNIT) e não mais a Prefeitura.

O Secretário de Planejamento de Itapetininga, Messias Ferreira Lúcio, explica que o projeto será detalhado. "Vai dar para saber o valor exato da obra a ser construída. E com base no projeto, se fará uma nova licitação para a construção da transposição, da nova linha férrea da cidade".

A ideia do projeto que vem sendo estudado é retirar esses trens que ainda circulam, por várias vezes ao dia, pelo Centro. O novo traçado terá cerca de 18 km, será mais reto e passará pela região periférica da cidade, entre os bairros Mato Seco e Curuça.

O novo traçado também deverá integrar o projeto de cerca de mil quilômetros que ligará Belo Horizonte (MG) até Curitiba (PR) e será usado para transportes de cargas e passageiros.

A linha férrea atual passa pelo Centro de Itapetininga. (Foto: Reprodução/TV Tem) 

A linha férrea atual passa pelo Centro de
Itapetininga. (Foto: Reprodução/TV Tem)
O Secretário de Planejamento informa que os trilhos atuais não comportariam um trem de alta velocidade. "A estação antiga foi inagurada em 1895, mais de 100 anos. Na época não tinham os recursos que temos hoje, como de terraplanagem, de máquinas. Era tudo feito com base na força animal e no braço do homem. E para que não houvesse muita movimentação de terra, o traçado acompanhava a topografia do terreno", justifica.

Com o novo traçado, todos estão de acordo. A dúvida agora é com o que será feito com o atual trajeto, que será desativado. Existem três possibilidades em estudo: tansformar o espaço em uma avenida, em uma ciclovia, ou aproveitar para instalar um Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), parecido com um metrô, porém, com poucos vagões, reduzindo bastante a composição, em relação aos trens.

Novo trajeto da ferrovia será menos sinuoso, com 18 km, e passará pela região periférica da cidade.  (Foto: Reprodução/TV Tem)


Novo trajeto da ferrovia será menos sinuoso, com 18 km, e passará pela região periférica da cidade. (Foto: Reprodução/TV Tem)


 Muitos acidentes graves já foram registrados ao longo da ferrovia envolvendo pedestres e motoristas. Outro problema muito comum é quando o trem precisa para e, como a composição é muito grande, acabam fechando vários cruzamentos ao mesmo tempo, prejudicando o trânsito de veículos.

Messias esclarece que se instalarem um VLT, a situação será outra. "Caso seja aproveitado para um trem de passageiros, será uma composição curta, com dois ou três vagões, e as cancelas seriam automáticas, sem nenhuma interferência, como se fosse um cruzamento de carros", finaliza o secretário.


 G1  11/06/2012  07h42


                    assista o video contorno ferroviario de Itapetininga 



 

sábado, 9 de junho de 2012

CUSTOS LOGÍSTICOS NA ECONOMIA BRASILEIRA ILOS


ARTIGOS - CUSTOS LOGÍSTICOS NA ECONOMIA BRASILEIRA

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Maurício Lima

 

INTRODUÇÃO
 
A carência de informações sobre custos logísticos no Brasil torna freqüente a utilização de dados defasados. O grande problema é que estes dados não necessariamente representam a nossa atual realidade, tornando difícil, entre outras coisas, a comparação com outros países. Além de tudo, a falta de um histórico acaba inviabilizando a análise da evolução do nosso custo logístico. 
 
Diante deste cenário, o Centro de Estudos em Logística realizou uma pesquisa sobre Custos Logísticos no Brasil buscando números e metodologias que respondessem as principais questões relacionadas ao tema. Assim, em Janeiro deste ano, iniciamos uma pesquisa e logo nos deparamos com uma imensa dificuldade de obtenção de dados sobre o país. Além de pouco atualizadas, muitas informações são imprecisas e incompletas. Outras não são disponíveis, ou mesmo não existem. Isto ocorre não apenas no que se refere aos dados de custos, mas em logística em geral. 
 
Para contornar o problema, a pesquisa utilizou mais de 30 diferentes fontes (ABCR, ANP, ANTT, ANTF, ANTAQ, Banco Mundial, BNDES, CNT, CONAB, CVM – Economática, CSCMP, DAC, DETRAN, FIPE, GEIPOT, IBGE, INFRAERO, IPEA, NTC, SINDICOM, Revistas especializadas, empresas usuárias de transporte aquaviário, empresas de navegação, empresas distribuidoras de combustível, empresas aéreas, empresas de transporte e diversos executivos e especialistas do mercado) trabalhando números, em paralelo, para garantir a acurácia dos resultados. 
 
Além da parte macroeconômica, foi conduzida uma pesquisa com grandes empresas atuantes no Brasil, buscando saber não apenas a representatividade dos custos logísticos nestas indústrias, mas também, como está sendo realizada a gestão de custos, quais sistemas são utilizados para suporte e qual a expectativa para evolução destes gastos, dentre outros resultados. No entanto, devido ao grande volume de informações, esta parte microeconômica será apresentada, em breve, em uma próxima oportunidade. 
 
O estudo macroeconômico foco deste texto pretende ter seus números atualizados pelo menos a cada dois anos, permitindo a geração de um evolutivo dos gastos com logística no Brasil. Costumo comparar a necessidade de medição de indicadores com o papel de uma balança em um regime, pois independente do tipo de dieta utilizada para emagrecer, é praticamente inconcebível imaginá-la sem a utilização de uma balança para medição do peso e seu acompanhamento. 
 
Este texto irá abordar a parte da pesquisa referente ao cálculo do custo logístico do Brasil, incluindo as atividades de transporte, armazenagem, estoque e a sua administração. O escopo deste trabalho é limitado às operações domésticas, incluindo no caso de exportações, o transporte até o porto no Brasil e no caso de importações, o transporte a partir do porto nacional, incluindo o custo portuário. Por fim, será apresentado um comparativo entre os valores do Brasil e dos EUA. 
 
Antecedentes
 
Até a realização desta pesquisa, a estimativa corrente do nosso custo logístico era de cerca de 17% do PIB. A origem deste número está ligada a um estudo do Banco Mundial realizado em 1996. Este estudo focado em transportes não chega a mencionar o valor de 17%, mas estima o custo de transporte no Brasil como sendo entre 9 e 10% do PIB. A partir deste número, extrapolou-se - a comunidade logística em geral, não o Banco Mundial – com base na parcela de custo de transporte, normalmente em torno de 60% do custo logístico, para se obter o resultado final. Assim, a partir do intervalo superior do custo de transporte de 10% do PIB chegou-se ao custo logístico nacional de 17% . Diante da falta de outro número mais preciso, este acabou virando uma referência. 
 
Independente da qualidade da estimativa dos 17% vale observar as transformações ocorridas desde 1996, data referência do estudo anterior, até 2004, data dos dados utilizados nesta pesquisa.  Nos EUA, por exemplo, apesar do aumento do petróleo, o custo logístico diminuiu em relação ao PIB durante este período, passando de 10,2% para 8,6%, segundo pesquisa do Delaney  e Wilson, referência americana, com a qual estarão sendo comparados os valores encontrados no Brasil. Como a pesquisa americana considera também parte do transporte internacional, o valor de comparação utilizado do custo americano foi de 8,3% do PIB, depois de excluídos os custos de transporte internacional. 
 
As variações do custo logístico americano de 1996 até 2004 mostram que houve uma redução do custo de estoque e, em segundo plano, do custo transporte. 
 
No Brasil, durante este período, o diesel subiu 292%, resultado da elevação do preço do petróleo, o qual também causou um aumento nos valores dos pneus. Vale ressaltar que estes itens de custo variável são de grande importância na formação do preço. Principalmente no Brasil, onde o frete praticado é em grande parte das vezes inferior ao custo total, principalmente no caso dos autônomos. Nestes casos, o preço cobre os custos variáveis, porém não remunera todos os custos fixos, principalmente aqueles ligados ao investimento, como o de depreciação e o financeiro. 
 
Com o aumento dos custos variáveis, a margem existente para negociação de preço do autônomo diminui, pois o custo variável se torna mais significativo. Dados de uma revista nacional de transporte de 1996 mostram que o diesel na época representava 16,8% do custo total de uma carreta. Em um exemplar de 2004 da mesma revista, o diesel já representava 31,8% do custo total, considerando o mesmo tipo de veículo e operação. 
 
Embora tímida, a boa novidade está relacionada ao aumento da parcela da ferrovia na movimentação de carga, a qual estava na faixa de 20% em 1996 e foi para 24% em 2004. A participação do rodoviário continua elevada, mas diminuiu um pouco, foi de um de 64% para 59% no mesmo período. 
 
Quanto ao custo financeiro de estoque, ao comparar a taxa básica de juros de 2004 com a de 1996 é possível perceber uma significativa redução. Enquanto em 1996 a taxa média ficou em 27,15% a.a., em 2004, ela ficou em 16,44% a.a.. É claro que em termos comparativos com outros países a taxa brasileira continua excessivamente alta. Nos EUA, no mesmo período ela passou de 5,27% para 1,38%.

Transporte
Para se chegar ao custo de transporte foi calculado o custo por modal, conforme é exposto a seguir.

Rodoviário
 
Apesar de este modal ser responsável pela maior parcela da carga movimentada no país e pela maior parcela dos custos, os dados relativos a esta atividade são escassos e pouco confiáveis. 
 
Assim, a solução encontrada foi calcular o custo de maneira indireta se baseando no consumo de diesel e na sua participação no valor do frete. Os custos de pedágio, gerenciamento de riscos e o custo de transporte de carga em veículos sem serem movidos a diesel foram considerados em outras contas e posteriormente adicionados. 
 
O estudo apontou que 55% do total de diesel consumido no Brasil em 2004 foram destinados ao transporte rodoviário de carga, enquanto os demais 45% foram destinados à agroindústria, ao transporte ferroviário, ao governo, ao transporte rodoviário de passageiros, à navegação, à pesca, às indústrias, à mineração e aos carros de passeio. 
 
Com base na parcela de 55% e no consumo total de diesel, chegou-se ao volume destinado ao transporte rodoviário de carga em 2004 de 21,7 bilhões de litros, o qual correspondia a R$ 32,3 bilhões. A partir daí, o desafio foi obter o percentual médio do custo do diesel no frete no Brasil. 
 
Para chegar a esta média foi necessário fazer uma segmentação considerando os fatores que mais influenciavam neste percentual, entre os quais se destacavam: a distância da rota, o tipo de carga transportada, se a carga era fechada ou fracionada, a utilização de autônomos e a existência de frete retorno. 
 
Desta forma, foi feita uma composição sobre qual seria a relação entre o custo de combustível e o valor do frete para cada tipo de perfil de transporte selecionado e a sua respectiva participação dentro do consumo total. Ponderando-se as diferentes realidades que variavam de 1,5% para carga fracionada em curta distância, passando por 24,6% para carga intra-regional e 28,1% para produtos perigosos inter-regionais até 41,8% para carga geral em longa distância, chegou-se a um percentual médio de 33,6%. 
 
Isto significa dizer que a cada R$ 3,00 gastos com transporte em 2004, em média R$ 1,00 foi referente ao custo do diesel, enquanto os outros R$ 2,00 foram utilizados para cobrir os demais custos (motorista, manutenção, depreciação etc.) e ainda, eventualmente, gerar lucro. 
 
Com base neste percentual, chegou-se ao custo de transporte rodoviário dos veículos a diesel em 2004 de R$ 96,3 bilhões. 
 
Então foi calculado o custo com os veículos que não utilizam diesel, a conta de pedágio e de gerenciamento de riscos. Os custo dos veículos de transporte de carga que utilizam outros combustíveis foram estimados em R$ 7,0 bilhões com base no número de unidades e no custo padrão. Sobre o pedágio, por exemplo, não foi encontrada nenhuma informação sobre o valor arrecadado com o transporte de carga. Fez-se, portanto, a conta inversa, subtraindo do valor total de pedágio pago no Brasil em 2004, o valor estimado referente ao transporte de passageiros, obtendo-se R$ 2,6 bilhões. Quanto ao gerenciamento de riscos estimamos seu custo em R$ 3,3 bilhões com base na parte microeconômica da pesquisa. 
 
Assim, obteve-se o custo total do transporte rodoviário no Brasil de R$ 109,2 bilhões em 2004, conforme pode ser visto no quadro resumo da figura 1. 
 
Custo tranporte rodoviário - Artigo logística ILOS 
Figura 1 

Ferroviário
 
O transporte ferroviário foi o mais simples de ser encontrado. Bastou conseguir com a ANTT (Agência Nacional de Transporte Terrestre) a receita de todas as concessionárias ferroviárias do país em 2004, dado que este valor equivale ao custo de todos os embarcadores com relação à ferrovia, no caso R$ 7,5 bilhões,

Aquaviário
 
O cálculo do transporte aquaviário foi segmentado em um primeiro nível em: granel sólido, granel líquido e carga geral, além de tratar do hidroviário a parte. 
 
No caso de granel líquido foram consideradas duas realidades distintas a de embarcações fretadas no longo prazo e outra na qual é contratado apenas o serviço de transporte. A carga geral também teve que ser segmentada entre contêineres e suporte às operações offshore. 
 
Entre os dados mais difíceis de serem obtidos destacaram-se os do transporte hidroviário, cujas informações eram pouco precisas e não estavam consolidadas. No caso, foram usados valores de frete repassados por alguns embarcadores e dados de movimentação de outros trabalhos.
 
Com base nos dados de frete por tipo de carga transportado e seus respectivos volumes de movimentação foi calculado o custo do modal aquaviário, cujo resultado foi de R$ 7,3 bilhões na carga doméstica e mais R$ 5,2 bilhões referentes ao custo portuário de importações e exportações. Vale Destacar na carga nacional, o transporte de petróleo cru das plataformas para as refinarias por navio devido a sua relevância no volume total.

Dutoviário
 
As informações de custos foram baseados nos dados disponíveis da Transpetro, responsável por mais de 80% da carga transportada em dutos no Brasil. Estes dados foram extrapolados, considerando a movimentação total e obteve-se o custo de R$ 2,1 bilhões do modal dutoviário.

Aeroviário
 
No aeroviário também foram utilizados valores médios de frete e volume de movimentação. Estes dados em grande parte dependeram da colaboração de muitos executivos e especialistas ligados a empresas do setor, dada a dificuldade de obtê-los. Os valores de frete dos Correios foram tratados em uma outra conta dado a sua representatividade e a sua tarifa diferenciada.
O custo calculado para o modal Aéreo em 2004 foi de R$ 1,9 bilhões.

Custo total de transporte
 
Considerando o custo de cada modal, conforme pode ser visto no quadro da figura 2, o resultado encontrado para o custo total de transporte no Brasil em 2004 foi de R$ 133,3 bilhões, valor equivalente a 7,5% do PIB. 
 
Custo transporte carga - Artigo logística ILOS 
Figura 2

Estoque
 
O custo de estoque foi calculado através de dois modelos diferentes para validar o resultado. No primeiro momento foi utilizado o valor imobilizado em estoque publicado pelo IBGE relativo a 2003, porém ajustado para 2004, no valor de R$ 221,6 bilhões. Em seguida, está informação foi checada com os dados de cobertura de estoque de empresas de capital aberto, tendo como fonte dados da Economática. 
 
Sobre o montante imobilizado de R$ 221,6 bilhões foram aplicadas duas taxas. A primeira referente ao custo financeiro, na qual se utilizou a taxa Selic média de 2004 de 16,25% a.a.. A segunda referente aos custos de depreciação, obsolescência e seguro. Neste caso utilizou-se a metodologia e utilizada por Delaney e Alford-Bangs no cálculo do custo logístico americano com a mesma taxa de 15,25% a.a. dado que não tínhamos nenhum estudo neste sentido no Brasil e tínhamos o objetivo compará-lo com o número americano. Aplicando estas duas taxas chegamos a um custo de estoque no Brasil de R$ 69,8 bilhões, o que representa 3,9% do nosso PIB. 
 

Armazenagem
 
O cálculo do custo de armazenagem seguiu a proporção observada no modelo metodológico americano, resultando de um percentual do valor de estoque imobilizado. Assim obteve-se um custo de R$ 11,7 bilhões, o equivalente a 0,7% do PIB.

Administrativo
 
O custo administrativo também utilizou a metodologia de Delaney e Wilson dos dados estrangeiros, que considera um custo administrativo de 4% do total do custo logístico. Desta forma, para o Brasil, obteve-se R$ 8,5 bilhões, o que corresponde a 0,5% do PIB.

Custo Logístico
 
A composição de todos estes custos logísticos do Brasil em 2004 chega a um total de R$ 222 bilhões, o equivalente a 12,6% do PIB, conforme pode ser visto na figura 3. 
 
Custos logísticos - Artigo logística ILOS 
Figura 3
Nos Estados Unidos, os custos logísticos (domésticos) são equivalentes a 8,26% do PIB. Entre os custos das atividades, o de estoque é relativamente o que apresenta a maior diferença na comparação, 3,9% no Brasil contra 2,1% nos EUA. A outra parte da diferença é relativa ao custo de transporte, 7,5% e 5,0% respectivamente. A figura 4 apresenta o gráfico com esta comparação. 
 
Custos logísticos x PIB - Artigo logística ILOS 
Figura 4 
A figura 5 apresenta uma tabela com os dados de movimentação e custo de transporte no Brasil, em R$/ 1000.ton.Km, ou seja, o valor médio de se transportar uma tonelada por um distância de mil quilômetros. A tabela fornece estes valores para os diversos modais e a respectiva parcela de participação no total de cargas movimentadas.
Matriz transporte cargas - Artigo logística ILOS 
Figura 5
A comparação dos números do Brasil e dos EUA apresentada na figura 6 foi feita com base no valor do dólar de 2004. Pela grande influência da taxa de câmbio sobre estes resultados, se fosse utilizado o câmbio de 2005, todos os valores do Brasil sofreriam um aumento de 25%. 
 
Na tabela da figura 6, pode-se destacar a enorme diferença entre os valores de frete rodoviário do Brasil com os EUA. Esta diferença em parte está associada ao perfil de carga e o tamanho médio das rotas, mas também às situações de mercado bastante dispares.
Matriz transporte cargas - Artigo logística ILOS 
Figura 6 
Em relação à carga e o perfil de rotas, enquanto no Brasil predomina o transporte de produtos agrícolas em distâncias relativamente longas neste modal, nos EUA, este está voltado ao transporte de produtos de mais alto valor agregado e a complementação dos outros modais através de uma ponta rodoviária de menor distância. 
 
Do ponto de vista do mercado, enquanto no Brasil existe um excesso de oferta do setor, promovida principalmente pela baixa regulamentação e pelo grande número de autônomos, nos EUA ocorre uma escassez de motoristas. 
 
O modal aéreo é um pouco mais barato no Brasil, não sendo significativa a diferença. Já o custo do transporte dutoviário no Brasil é o dobro do americano, colaboram para este resultado as longas distâncias e o grande volume transportado por dutos nos EUA, os quais permitem grande economia de escala. Além é claro do alto custo do capital no Brasil que dificulta os elevados investimentos neste modal. 
 
A grande diferença do custo aquaviário entre o Brasil e os EUA pode em grande parte estar relacionada a dois fatores críticos. O primeiro é relativo à grande utilização da hidrovia nos EUA, a qual utiliza grandes composições a um baixo custo, reduzindo a média americana. O segundo é relacionado ao grande volume de petróleo transportado por curta distância na costa do Brasil, que em conjunto com um custo portuário relativamente alto, acaba elevando o custo por tonelada quilometro deste modal.  
 
O modal ferroviário aparece mais barato no Brasil por causa da operação da Vale do Rio Doce, a qual, além do alto volume e grande produtividade, opera a um preço de custo para a própria mineradora influenciando bastante neste resultado. Ao retirá-la deste cálculo, este número aumentaria de US$ 12,44 para US$ 16,93. 
 
Mesmo considerando a composição da matriz de transporte dos dois países, o custo de se transportar uma tonelada por mil quilômetros era em 2004 na média é menor no Brasil do que nos EUA. Mas por que isso ocorre se no Brasil o custo de transporte equivale a 7,5% do PIB e nos EUA apenas 5,1%? A resposta a esta pergunta está na relação entre a movimentação de carga e o tamanho da economia.
Enquanto a economia americana é praticamente 20 vezes maior que a nossa, eles só movimentam 7 vezes mais carga que o Brasil. Na verdade, o valor agregado da carga movimentada lá é muito mais alto do que a daqui, destaca-se também a maior participação de serviços na economia 79% contra 56% no Brasil. 
 
O grande problema da matriz de transporte do Brasil é que devido à falta de infraestrutura adequada, nem sempre utilizamos o modal mais adequado ao tipo de carga transportado. Assim, em diversos mercados o embarcador diante da falta de disponibilidade de outros modais, acaba obrigado a utilizar o rodoviário, que apesar dos baixos valores de frete praticados, não teria como competir com uma ferrovia ou hidrovia, principalmente nas longas distâncias.

CONCLUSÃO
 
A dificuldade de obter informações sobre custos logísticos no Brasil é muito grande, e o estudo desenvolvido pelo CEL-COPPEAD em 2005 sobre o assunto, embora bastante completo em algumas áreas, é apenas uma iniciativa. Entre as áreas em que o estudo deve ser aprofundado destaca-se a de armazenagem, dado que esta pesquisa apenas replicou modelos internacionais no cálculo deste custo. 
 
Apesar de suas limitações relacionadas principalmente a disponibilidade de dados, a pesquisa pode chegar a importantes conclusões com relação ao custo logístico nacional, entre as quais cabe destacar: 
 
• A redução de custo de transporte de 1996 a 2004 nos EUA e no Brasil em relação ao PIB, apesar da elevação do preço do petróleo, provavelmente devido a um aumento da eficiência desta operação. 
 
• O elevado custo de estoque brasileiro que é quase o dobro do americano devido ao nosso elevadíssimo custo de capital. 
 
O expressivo aumento da receita do modal ferroviário no ano de 2004, o qual pode dar fôlego a novos investimentos, permitindo aumento do volume de cargas deste modal. 
 
• O motivo do custo logístico no Brasil ser maior que o americano em termos proporcionais ao PIB está ligado principalmente a menor participação de serviços na nossa economia e ao menor valor agregado dos nossos produtos, além do nosso maior custo de capital. 
 
Para finalizar, vale destacar que os valores de frete rodoviário praticados no Brasil são bastante baixos, no entanto, a falta de infraestrutura adequada muitas vezes inviabiliza o transporte de cargas por outros modais, muitas vezes, mais adequados à distância e ao tipo de produto, devido a problemas de capacidade e disponibilidade. Assim, o resultado acaba sendo um frete alto para quem paga, mas baixo para quem recebe.

BIBLIOGRAFIA
 
The World Bank. Brazil Multimodal Freight Transport: Selected Regulatory Issues. Relatório no. 16361-BR. Oct, 1997.
Wilson, R.. 16th Annual State of Logistics Repor. CSCPM: Jun, 2005.
Bowersox, D. J., Calantone, R.J., Rodrigues, A. M.. Estimation of Global Logistics Expenditures Using Neural Networks. Michigan State University. JBL: Vol.24, No.2, 2003.
Castro, N.R.. Logistic Costs and Brazilian Regional Development. The World Bank: Aug, 2004.
 
Maurício Lima

 Data: 10/01/2006

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PANORAMA DAS FERROVIAS BRASILEIRAS ILOS

ARTIGOS - PANORAMA DAS FERROVIAS BRASILEIRAS

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Monica Barros e Alexandre Lobo
Panorama - ILOS Lgística Para saber mais sobre este assunto conheça o
Panorama Operadores Logísticos e Ferrovias: Os Melhores na Percepção de seus Usuários 2010
INTRODUÇÃO
 
O transporte de carga por ferrovias vem ganhando espaço no Brasil, apesar de não ser bem avaliado pelos profissionais de logística do país. Essa é uma das constatações da pesquisa feita pelo Instituto ILOS entre setembro e outubro de 2008 com 220 das maiores empresas brasileiras em faturamento. Ao todo, 369 executivos de logística de mais de vinte setores da economia avaliaram o modal ferroviário nacional.

Ainda que o transporte de carga continue sofrendo com a baixa disponibilidade de infraestrutura e com problemas de gestão, a movimentação de produtos/insumos por trilhos e a receita bruta das companhias ferroviárias continuam crescendo. Essa evolução prova que as empresas precisam, cada vez mais, deste modal para escoamento de sua produção. 

CARACTERÍSTICAS DA OPERAÇÃO NO BRASIL
 
Com uma área de 8,4 milhões de quilômetros quadrados e aproximadamente 29 mil quilômetros de ferrovias, o Brasil tem, em média, densidade de 3,46 quilômetros de trilhos para cada mil quilômetros quadrados. Países de menor área, como Índia, Alemanha e Argentina, possuem relativamente mais trilhos; respectivamente, 63.221, 48.215 e 31.409 km, e também maior densidade.

Um dos fatores que podem estar contribuindo ou, no mínimo, inibindo investimentos em extensão ou retificação das linhas é a forma como foi desenhado o atual modelo de concessão. As regras em vigor estabelecem que ao término do prazo do contrato os investimentos realizados pelas concessionárias nas vias retornem à União. Desta forma, investimentos em novas linhas acabam sendo realizados majoritariamente pelo governo.

Aliás, há décadas a malha ferroviária brasileira permanece praticamente a mesma. No entanto, através do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), o Governo brasileiro vem trabalhando para ampliar em quase oito mil km as ferrovias nacionais. No total, serão 37 mil km de trilhos até 2020, gerando um aumento de 27% da malha. A previsão é de que serão investidos pelo PAC cerca de R$ 20,3 bilhões, excluindo o Trem de Alta Velocidade (TAV) que, sozinho, seria responsável por aproximadamente R$ 34,6 bilhões. 

FERROVIAS ATUAIS E PLANEJADAS PELO PAC
 ferrovias atuais planejadas - Artigos logística ILOS
 Figura 1: Comparação entre as ferrovias atuais e as planejadas pelo PAC
 
Novas ferrovias, como a Oeste-Leste, as extensões da Norte-Sul e a Ferronorte, além da Transnordestina, pretendem aumentar a densidade ferroviária em áreas que hoje não são atendidas pelo modal, como é o caso da região Centro-Oeste.

Vale lembrar que é nos estados desta região e no oeste baiano que se encontram os maiores potenciais para o crescimento da fronteira agrícola brasileira. Por serem, em geral, de baixo valor agregado, possuírem grandes volumes e percorrerem grandes distâncias, os produtos agrícolas, juntamente com minérios em geral, são adequados para o transporte ferroviário.

Uma das commodities mais importantes da carteira de exportações do Brasil, o minério de ferro foi um dos produtos que mais aumentaram sua movimentação por trens. Em 2003, os trilhos brasileiros transportaram 203,7 milhões de toneladas de minério, número que subiu para quase 307 milhões em 2007, uma alta de 51%.

No total, as ferrovias brasileiras aumentaram em 20% o transporte de cargas nesse período. Em 2003, as principais ferrovias movimentavam 345 milhões de toneladas e, em 2007, o volume foi de 415 milhões.
 
 crescimento volume ferroviário - Artigo logística ILOS
Figura 2: Crescimento do volume ferroviário em milhões de toneladas úteis
 
Atentas às novas oportunidades de negócios, as concessionárias vêm investindo cada vez mais para melhorar a qualidade do serviço oferecido e diversificar os produtos por elas transportados. Esse é o caso da movimentação de contêineres, que entre 2003 e 2007 subiu 62%.

O aumento no volume das mercadorias transportadas sobre trilhos se refletiu também no crescimento da receita bruta das concessionárias. Os valores praticamente dobraram em quatro anos, saindo de R$ 6,1 bilhões em 2003 para R$ 12,1 bilhões em 2007. Muito embora essa movimentação tenha aumentado, ela ainda está muito aquém das necessidades brasileiras. 

AVALIAÇÃO DAS FERROVIAS BRASILEIRAS NA PERCEPÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE LOGÍSTICA - RESULTADOS DA PESQUISA
 
Ainda que os resultados das concessionárias ferroviárias venham melhorando nos últimos anos, o mercado ainda tem restrições em utilizar esse modal. A avaliação das ferrovias feita por 369 profissionais de logística indica que ainda há muito a melhorar. Em média, as ferrovias receberam nota 5,8, sendo que os profissionais que as utilizam deram nota 6,4 e os que não as utilizam atribuíram média 5,5.

Em parte, esta nota baixa dada pelos profissionais que não usam o modal pode ser explicada pelo fato de várias empresas terem tentado utilizar as ferrovias e não conseguido. Entre os especialistas pesquisados, 20% trabalham em empresas que utilizam ferrovias, 43% em empresas que não as usam e 38% em organizações que transportam por trilhos ou não, mas já encontraram problemas em usar o modal.
 ferrovias empresas brasileiras - Artigo logística ILOS
 Figura 3: Utilização das ferrovias pelas empresas brasileiras
 
As avaliações e notas das ferrovias são diferentes por setor. Os setores de Telecomunicação, Comércio Varejista e Papel e Celulose foram os que atribuíram as melhores notas, respectivamente 7,0, 6,9 e 6,7. Já empresas dos segmentos de Atacado e Comércio Exterior, Automotivo e Material de Construção foram as mais críticas em relação ao modal ferroviário. Suas notas foram respectivamente 4,7, 4,9 e 5,1. Setores com intensa movimentação ferroviária, como Agroindústria e Siderurgia e Metalurgia atribuíram notas medianas: 5,8 e 5,9, respectivamente.
notas medias ferrovias - Artigo logística ILOS 
Figura 4: Notas médias das ferrovias por setor – considerando todos os profissionais de logística
Entre os fatores determinantes para a não movimentação da carga por trem, o principal deles, segundo os profissionais de logística brasileiros, é a pouca disponibilidade de rotas. Afinal, a densidade da malha férrea do país é de 3,4 quilômetros de trilho para cada mil quilômetros quadrados de área territorial, muito abaixo da Alemanha, que tem índice de 135,0, por exemplo. Entre os setores que mais citaram esse problema estão o Automotivo, Energia, Material de Construção e Telecomunicações.

O fato de o Brasil ter baixa disponibilidade de rotas faz com que poucas empresas utilizem mais de uma ferrovia para o transporte de suas mercadorias. Entre as empresas pesquisadas, apenas 24% das que já usam o modal operam com mais de quatro ferrovias distintas. Utilizar apenas uma ferrovia é a realidade para 40% das organizações.

O alto custo total da utilização do modal ferroviário é outro problema destacado pelos profissionais. Além do preço da ferrovia, são computados pelas empresas os custos de transbordo e o preço do frete rodoviário para levar as mercadorias aos terminais ferroviários nos pontos de origem e destino. O contratante também precisa arcar com o custo de manutenção de estoques extras e suportar o aumento do lead time total da operação. As empresas de Papel e Celulose e Eletroeletrônicos foram as que mais citaram esse motivo para a não utilização das ferrovias.

Outros dois fatores também foram apontados pelas empresas como problemas relevantes: a falta de interesse das concessionárias em transportar determinadas mercadorias e a indisponibilidade de vagões.

Para atenuar o problema de indisponibilidade de vagões, as empresas têm aumentado os investimentos em vagões ao longo dos anos. Em 2006 existiam 72.148 vagões em tráfego na malha e, em 2007, 82.577, um crescimento de 14%. Outra prática que tem se tornado comum para garantir a disponibilidade dos vagões é a opção, por parte das empresas usuárias das ferrovias, de investir, elas próprias, na compra de vagões. Para essas empresas, possuir o vagão é minimizar problemas com indisponibilidade, enquanto para as ferrovias é a possibilidade de esses usuários serem clientes fixos, já que não há concorrência no modal.
não utilização ferrovias - Artigo logística ILOS 
Figura 5: Principais motivos para a não utilização das ferrovias, segundo os profissionais de logística
A baixa velocidade é apontada por 21% dos profissionais como um dos fatores para não utilização das ferrovias, principalmente por parte das empresas de Atacado e Comércio Exterior. Tradicionalmente, o transporte ferroviário brasileiro já não tinha velocidade média elevada, e, nos últimos anos, viu essa velocidade média comercial reduzir. A queda foi, de 22,2 km/h em 2003, para 20,9 km/h em 2007, enquanto nos EUA as ferrovias atingiram 40,5 km/h em 2007.

A necessidade de investimento direta ou indiretamente (para contornar a indisponibilidade de vagões, terminais ou ramais ferroviários) foi apontada pelos profissionais de logística como sendo um ponto negativo para transportar por trilhos. Como, muitas vezes, as empresas não têm condições financeiras para investir nesse modal, isso se torna uma barreira para o crescimento do transporte ferroviário no Brasil. Aliado a isto, há grande oferta do frete rodoviário.

O risco de acidente foi um dos últimos motivos apontados pelos profissionais de logística para não utilizar os trens, e isto reflete o empenho das concessionárias em reduzir o índice de acidentes. Em 2003, ocorreram 35,7 acidentes para cada milhão de trem/quilômetro, enquanto em 2007 esse índice foi de 14,0, uma redução de 61%. Ainda assim, os números brasileiros estão bem acima dos norte-americanos, com 5,31 acidentes para cada milhão de trem /km.

Apesar dos problemas existentes, o crescimento da movimentação mostra que as ferrovias têm um potencial muito grande a ser explorado. Essa sensação é compartilhada pelas próprias indústrias contratantes. A expectativa das empresas brasileiras é de que, até 2010, haja aumento na participação das ferrovias para transporte de carga.

Entre os profissionais de logística das principais companhias do país, 36% dos entrevistados admitiram que pretendem ampliar a sua movimentação de carga por vias férreas. Outros 62% pretendem manter essa movimentação, e 2% acreditam que a participação do modal ferroviário deverá ser reduzida. Entre as empresas que desejam aumentar sua participação, estima-se que o crescimento médio deverá ser de 24%.

O incentivo maior partirá das empresas da Agroindústria e do setor de Siderurgia e Metalurgia, que atualmente já são dois dos principais usuários do modal.
 participação modal ferroviário - Artigo logística ILOS
Figura 6: participação do modal ferroviário nas empresas até 2010
Embora planejem aumentar a utilização do transporte ferroviário, as empresas ainda se mostram receosas quanto à infraestrutura futura do modal. Para 50% dos entrevistados, a qualidade não mudará até 2010 e 7% dizem que a situação ficará ainda pior. Os otimistas com relação às ferrovias somam 43% dos profissionais de logística brasileiros, que acreditam em alguma melhora de qualidade das vias até o próximo ano.
 qualidade modal ferroviário - Artigo logística ILOS
Figura 7: qualidade do modal ferroviário até 2010, na opinião das empresas

Cientes dos problemas, as concessionárias aumentaram os investimentos nos últimos anos. De 2003 a 2007, o aporte financeiro cresceu 151%, saindo de R$ 1 bilhão para R$ 2,7 bilhões, sendo que boa parte dos recursos (cerca de 40%) foi destinada para a compra e recuperação de vagões e locomotivas. As perspectivas futuras apontam algumas melhorias para o país, caso ações do governo, como as previstas no PAC, se concretizem. 
BIBLIOGRAFIA
 
AAR – American Association of Railroads

ANTT – Agência Nacional de Transportes Terrestres

ANTF – Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários

Ministério dos Transportes

Panorama ILOS – Operadores Logísticos e Ferrovias: os melhores na percepção de seus usuários

World Fact Book
 
Alexandre Lobo

Data: 10/10/2009
 

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