segunda-feira, 28 de maio de 2012

Interferências políticas tumultuam a agenda



Apontada como a mais atrasada das infraestruturas no país, o setor de transporte e logística é o segmento que mais sofre com o “custo Brasil” e o que mais padece de interferências políticas

 

Apontada como a mais atrasada das infraestruturas no país, o setor de transporte e logística é o segmento que mais sofre com o “custo Brasil” e o que mais padece de interferências políticas. “É inconcebível que uma agência nacional de transportes tenha um diretor que era técnico de basquete e que, em função de ser assessor de um senador da base governista, vira diretor de uma agência reguladora”, diz Osvaldo Agripino de Castro Jr, professor de Direito Regulatório e de Direito Marítimo e Comercial Internacional.

Ele falou sobre Marco Regulatório no 7º Encontro de Logística e Transportes – Brasil: um país sem logística?, realizado pela Fiesp, em São Paulo. Entre os participantes, a tônica comum foi a distância que separa legislações, políticas, agências e empenho da iniciativa privada dentro do setor de transporte e logística.

Segundo o professor, “a questão está mais na política e na percepção do empresariado, tanto dos prestadores de serviços como nos donos de carga”. No transporte marítimo internacional – ele cita – “temos a 6u00aa economia mundial e a 32º frota marítima no mundo. Hoje 95% do nosso comércio exterior é feito por transporte marítimo e temos menos de 1% de navios de bandeira brasileira operando. Dependemos das bandeiras de conveniência que fazem o que querem enquanto a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) não tem poder sequer sobre o valor do frete”, critica. Segundo Castro Júnior, a “maior parte dos 34 portos no Brasil não tem licença para operar”.

Fernando Xavier Ferreira, vice-presidente do Conselho Superior de Infraestrutura (Coinfra) da Fiesp, lembrou que o modal transporte e logística é o que mais necessita de um órgão eficiente. “Não temos nenhum aparelho regulatório que incentive o desenvolvimento daquilo que traz melhor economia, mais benefícios para o custo Brasil”, diz.

O fato de o setor de transporte ter começado sua fase de regulação quando estava sendo desestatizado explica em parte as dificuldades que encontra e o fato de ainda se conservar dividido, sem a participação do Legislativo, observa Geraldo Vianna, consultor da NTC & Logística. “Quase 95% das leis do Brasil são originárias de iniciativa do Executivo. Há um atropelamento”, afirma.

“Em 2007, diante da pressão pela modernização dos portos, foi criada a Secretaria Especial de Portos, arrancando mais uma costela do Ministério dos Transportes e dela criando uma secretaria ligada diretamente à Presidência da República com status de ministério”, diz Viana.

Em 2005, com a crise dos controladores de voo, a Anac já existia enquanto a Infraero nasceu em 1972. Viana lembra que, apesar de todas essas siglas e órgãos reguladores, ainda “há uma modalidade de transporte que não é tratada em lugar nenhum e que está entregue a administração direta da Transpetro – trata-se do escoamento das cargas líquidas no Brasil que não tem um marco regulatório, que são os 11 mil quilômetros de dutos: oleodutos e gasodutos.” Essa criação de siglas levou a um “fatiamento” do setor de transporte, afirma. (RC)

Jornal  Valor Online e impresso  Da Redação  28 maio 2012

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