Jornal O Estado de S.Paulo
As iniciativas anunciadas nas últimas semanas pelo
governo na área de infraestrutura indicam que, afinal, a questão começa a
ser tratada com seriedade e de maneira articulada pelas autoridades. O
objetivo enunciado pela presidente Dilma Rousseff é a prestação de
serviços mais eficientes e mais baratos nas rodovias, ferrovias, portos,
aeroportos e na geração e distribuição de energia elétrica. O grande
atraso com que essas providências estão sendo tomadas, no entanto, gerou
uma imensa escassez de serviços essenciais para o crescimento e, apesar
das dimensões e das ambições dos planos e projetos que começam a sair
do papel, por muito tempo ainda o País carecerá de infraestrutura
adequada.
"O que deixamos de fazer no passado atrapalhou muito a
infraestrutura", reconheceu o secretário de Política Nacional do
Ministério dos Transportes, Marcelo Perrupato, ao participar do
seminário "Os Nós da Infraestrutura", o primeiro da série Fóruns Estadão
- Brasil Competitivo, promovido pelo Grupo Estado em
parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI). O atraso é tão
grande que nem os planos de investimentos de até R$ 430 bilhões em
transportes anunciados recentemente são suficientes.
Problemas apontados há bastante tempo - alguns, há décadas - pelo
setor empresarial nas áreas de portos, aeroportos, fretes, transportes
internos e operações nos armazéns portuários começam a ser enfrentados
pelo governo, sobretudo com obras do PAC, mas "em uma velocidade aquém
da necessária", observou o diretor de Infraestrutura da CNI, José de
Freitas Mascarenhas.
Além da insuficiência de recursos e da lentidão da execução dos
planos do governo, há o problema da qualidade dos projetos. "Temos
deficiência na elaboração de projetos em obras mais complexas", disse o
presidente da Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de
Base (Abdib), Paulo Godoy.
Tudo isso retarda a solução dos problemas do País, que são imensos.
Tendo o Brasil escolhido as rodovias como principal componente de sua
matriz de transportes - 60% de toda a carga movimentada no País é
transportada por caminhões -, era de esperar que os planos do governo
dessem às estradas a importância que elas passaram a ter. Ainda hoje,
porém, apenas 12% da malha rodoviária está pavimentada. Ter pavimento
está longe de significar estrada de qualidade. De 92,7 mil quilômetros
de estradas pavimentadas, mais da metade está em condições regular, ruim
ou péssima, de acordo com pesquisa de campo da Confederação Nacional do
Transporte (CNT).
As longas filas de caminhões e a quantidade de navios esperando para
serem carregados na época da safra de grãos simbolizam o longo período
em que os portos brasileiros - responsáveis por 95% do nosso comércio
exterior - ficaram sem investimentos adequados. Os aeroportos também
passaram a integrar a lista dos grandes problemas de infraestrutura do
País.
Ignorado nos últimos anos pelo poder público, o setor ferroviário foi
o que recebeu as maiores atenções do governo no pacote de logística
anunciado no mês passado. Houve, segundo o secretário de Política
Nacional do Ministério dos Transportes, uma mudança no enfoque do
governo da matriz de transportes. Doravante, os investimentos em
rodovias serão destinados à duplicação da malha existente, não para a
abertura de mais estradas.
Na matriz ideal para o País, na nova visão do governo, as rodovias
responderiam por 29% dos transportes e as ferrovias, por 35% (os demais
meios responderiam pelo restante). Marcelo Perrupato acredita que, com
os investimentos programados, isso poderá ser alcançado em 2023.
Estes são, porém, apenas uma parte dos problemas que emperram o
crescimento. Há, ainda, a necessidade de melhorar as condições de vida
da população e preparar a mão de obra qualificada que o País demandará
cada vez mais daqui para a frente. E, além de obras de infraestrutura, o
País continua a carecer de um sistema tributário mais simples e menos
oneroso, de menos burocracia e de governos mais eficientes.
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