ARTIGOS - AVALIAÇÃO DO ACESSO AOS TERMINAIS PORTUÁRIOS E FERROVIÁRIOS DE CONTÊINERES NO BRASIL
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Data: 10/09/2006
Maria Fernanda Hijjar e Flavia Alexim
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INTRODUÇÃO
O aumento da utilização de contêineres
para movimentação de cargas é uma tendência mundial, abrangendo não
apenas os países desenvolvidos, como também os países em
desenvolvimento, como é o caso do Brasil. Este fenômeno pode ser
observado a partir do forte crescimento da movimentação de contêineres
nos portos de todo o mundo. No período de 1999 a 2003, a movimentação
mundial de carga conteinerizada nos portos apresentou crescimento de
55,2%, enquanto o total das exportações mundiais aumentou apenas 32,2%.
No Brasil, o crescimento do volume total
da movimentação de contêineres nos portos vem se mostrando
expressivamente maior que o crescimento do comércio exterior do país. No
período de 2001 a 2005, a movimentação portuária de carga
conteinerizada dobrou, atingindo o patamar de 5,9 milhões de TEUs
(Twenty Feet Equivalent Unit, unidade de medida que equivale a um
contêiner de 20 pés) no ano de 2005. Neste mesmo período, o crescimento
acumulado do comércio exterior brasileiro (exportações + importações)
foi de 68,5%. Assim, mesmo sendo um país cujo maior volume em toneladas
exportadas é de granéis, a importância dos produtos acondicionados em
contêineres vem crescendo de forma significativa.
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O aumento da utilização de contêineres tem
sido um dos principais fatores de estímulo ao transporte intermodal de
cargas em todo o mundo. Através de sua utilização, a carga sai de sua
origem e segue até seu destino final, podendo utilizar diferentes modais
de transporte sem precisar ser manuseada ou fracionada. O uso do
contêiner aumenta a eficiência no transbordo de carga, reduzindo o tempo
gasto para a troca de modais de transporte.
Mas apenas o seu uso não é suficiente para
que haja eficiência nos terminais intermodais. Uma questão que vem
sendo bastante questionada, tanto no Brasil quanto em portos
internacionais, diz respeito à qualidade dos acessos aos terminais de
carga, especialmente portos e terminais ferroviários.
Buscando avaliar a qualidade do acesso aos
terminais intermodais brasileiros, o CEL/Coppead realizou um
levantamento junto a gestores dos principais terminais portuários de
contêineres do país e dos terminais ferroviários que realizam
movimentação de carga conteinerizada. Os resultados são apresentados a
seguir.
Acesso aos terminais portuários
A primeira conclusão obtida na pesquisa
mostra que, no Brasil, existem mais terminais portuários com problemas
de acesso rodoviário do que nos EUA. Em praticamente todos os itens
avaliados o Brasil possui mais problemas. Os congestionamentos foram
indicados como um problema crítico por 60% dos terminais portuários.
De forma geral, a qualidade do acesso
terrestre aos portos que movimentam contêineres foi bastante criticada,
tendo recebido nota média de 4,7 pontos (em uma escala de 0 a 10 pontos)
para o acesso rodoviário e 4,8 pontos para o acesso ferroviário. O
futuro, entretanto, mostra uma perspectiva otimista dos gestores de
terminais, que acreditam que a nota média deve melhorar.
Enquanto o cenário não muda, os baixos
investimentos realizados pelo governo brasileiro para resolver os
gargalos de acesso aos portos têm sido um dos pontos mais criticados.
Mas os problemas dos terminais de contêineres não são os mesmos em todas
as regiões do país. Embora existam críticas comuns, é interessante
notar que cada terminal tem sua especificidade.
No Sudeste, região de maior movimento
portuário do Brasil, os problemas apontados são típicos de terminais de
grande aglomeração de cargas. Os três problemas mais críticos citados
nesta região foram: congestionamento, pouco investimento do governo em
acessos ferroviários e falta de área de estacionamento. Vale ressaltar
que os terminais da região Sudeste foram os mais insatisfeitos em
relação às questões que envolvem o acesso rodoviário aos portos.
Os terminais do Nordeste/Norte, por sua
vez, têm acessos ferroviários bastante deficientes ou inexistentes.
Atualmente, esta região apresenta o maior grau de insatisfação com os
itens que envolvem as ferrovias. Os principais problemas citados pelos
terminais foram: velocidade dos trens, disponibilidade de
vagões/locomotivas e baixo nível de investimento das concessionárias e
do governo nas ferrovias de acesso aos portos.
Por fim, na região Sul, que é a menos
crítica do país, especialmente nos itens relacionados ao acesso
rodoviário, citou como principal problema os investimentos do governo no
acesso ferroviário.
Embora ainda consideradas pouco
representativas, os gestores dos terminais brasileiros reconhecem
algumas melhorias recentes que facilitaram a chegada e saída, por terra,
dos contêineres nos portos. No Sudeste, os investimentos privados
realizados pelas concessionárias rodoviárias e ferroviárias; no Sul, a
repavimentação de rodovias; e, no Nordeste, os investimentos em material
rodante nas ferrovias e a construção de novas rodovias de acesso foram
apontadas como as melhorias recentes mais significativas.
Este cenário, onde os problemas são
considerados graves e as melhorias recentes não apresentam impactos
muito representativos, gera uma situação pouco eficiente para o
recebimento e escoamento de carga nos portos.
Quando o acesso aos portos não é
eficiente, toda a operação de transporte da carga acaba sendo
comprometida, pois os gargalos enfrentados na chegada ao porto promovem
atrasos e necessidade de estoque extra, aumentando o custo logístico
total. Isto pode afetar a rentabilidade dos terminais e das empresas
exportadoras e, em uma escala mais ampla, afetar também a
competitividade dos produtos brasileiros no exterior.
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Uma das maneiras de melhorar a questão
seria ampliar a utilização de ferrovias, uma vez que uma composição
ferroviária elimina a utilização de diversos caminhões, reduzindo filas e
congestionamentos na entrada dos portos. No Brasil, a utilização de
ferrovias na chegada e escoamento de contêineres nos portos ainda é
muito baixa: apenas 1,9% dos contêineres que chegam aos portos
brasileiros e 1,6% daqueles que deixam os portos o fazem através do
modal ferroviário. Os terminais estimam que estes percentuais aumentem
nos próximos anos1, passando para 3,8%, tanto para o recebimento quanto
para o escoamento deste tipo de carga.
Acesso aos terminais ferroviários
Atualmente, as ferrovias brasileiras ainda
são muito pouco representativas no transporte de contêineres,
movimentando um pouco mais de cem mil unidades anuais. Historicamente,
entretanto, entre 2001 e 2005, o volume de contêineres movimentados nas
ferrovias brasileiras mais do que dobrou, indicando uma tendência de
crescimento da utilização deste modal para o transporte de contêineres.
A título de comparação, no ano de 2005
foram movimentadas mais de onze milhões de unidades de contêineres nas
ferrovias Classe I nos EUA. Para que as ferrovias americanas pudessem
constituir um elo fundamental no transporte de contêineres no país,
foram necessários diversos investimentos, tanto por parte do governo
como da iniciativa privada, em infraestrutura, equipamentos e TI, entre
outros.
E esses investimentos não se restringiram
apenas às vias, mas também aos terminais intermodais de transferência de
carga entre trens e caminhões, cuja eficiência é determinante para a
viabilização do transporte ferroviário de contêineres.
No Brasil, de acordo com o levantamento
realizado pelo CEL/Coppead em 2005, são 26 os principais terminais
ferroviários que movimentam contêineres no país. A localização dessas
instalações está bastante concentrada nas regiões Sul e Sudeste.
A comparação entre Brasil e EUA indica que
os terminais ferroviários brasileiros enfrentam mais problemas que os
americanos, especialmente no que diz respeito às condições de
pavimentação e sinalização das rodovias de acesso às suas instalações.
Entretanto, diferentemente dos terminais
portuários, os gestores dos terminais ferroviários brasileiros não
enfrentam tantos problemas com o acesso rodoviário a suas instalações,
fato que também acontece no mercado americano.
Por trabalharem com uma escala de
movimentação bem mais elevada que a dos ferroviários, os terminais
portuários enfrentam perdas maiores provocadas pela ineficiência do
acesso. Esta diferença na magnitude das perdas envolvidas faz com que a
exigência de qualidade do acesso seja maior para os terminais
portuários, que precisam lidar com a coordenação de uma quantidade mais
elevada de trens e caminhões para viabilizar suas operações.
Assim, a nota média atribuída pelos
gestores de terminais ferroviários ao acesso rodoviário às instalações
foi de 6,5 pontos (em uma escala de 0 a 10 pontos), enquanto o acesso
ferroviário recebeu média geral de 7,5 pontos. Esta avaliação melhorou
nos últimos anos já que, em 2002, as médias atribuídas aos acessos
rodoviário e ferroviário foram de 5,7 e 7,1 pontos, respectivamente.
As notas esperadas para os acessos aos
terminais em 2008 demonstram que existe uma perspectiva bastante
otimista com relação à continuidade do processo de melhoria da qualidade
destas questões. A nota média esperada para 2008 é de 7,9 para o acesso
rodoviário e de 8,2 para o acesso ferroviário. Esta projeção é bastante
promissora e indica que, para os próximos anos, os terminais acreditam
que o acesso às suas instalações não será um empecilho para o
desenvolvimento da intermodalidade no país.
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Mesmo tendo se mostrado satisfeitos com a
qualidade de seus acessos rodoviário e ferroviário, os gestores de
terminais apontaram quais são os principais problemas que atualmente
mais influenciam esta questão. Os dois aspectos considerados mais
críticos foram os níveis de investimento do governo para o acesso
ferroviário, que recebeu nota média de 7,2 pontos, e para o acesso
rodoviário, que recebeu 6,0 pontos. Estas foram as duas únicas questões
que receberam nota superior a 5,0, num total de 21 problemas analisados.
Com relação às principais melhorias
recentes realizadas nos acessos aos terminais ferroviários, o maior
avanço ocorreu no nível de investimento em vagões e locomotivas, que
recebeu média geral de 6,6 pontos. Os demais itens avaliados receberam
nota inferior a 5,0, indicando que não ocorreram melhorias ou que estas
não tiveram grande impacto sobre a qualidade das vias de acesso aos
terminais.
CONCLUSÃO
O Brasil ainda não conta com um sistema
consolidado de transporte intermodal de contêineres. A falta de
infraestrutura, disponibilidade e freqüência dos meios de transporte
alternativos ao caminhão, assim como os baixos preços do frete
rodoviário, são alguns dos motivos para que a intermodalidade realizada
através de contêineres ainda seja incipiente no Brasil.
Entretanto, o fluxo de contêineres no país
vem apresentando crescimento bastante elevado ao longo dos anos,
especialmente devido ao aumento do comércio internacional. Este aumento
pode trazer maior escala de movimentação, permitindo que modais
tipicamente utilizados para transporte de grandes volumes, como é o caso
da ferrovia, aumentem sua representatividade na movimentação de
contêineres.
Para que o país possa aproveitar ao máximo
esta situação de crescimento, é necessário garantir as condições
necessárias para o escoamento da produção. Neste contexto, a
consolidação de um sistema eficiente de transporte de contêineres passa
pela qualidade do acesso aos terminais intermodais, tanto portuários
quanto ferroviários.
Atualmente, os portos são os mais afetados
por problemas de acesso terrestre. Os gestores dos terminais portuários
de contêineres esperam uma maior atuação do governo para redução dos
gargalos de acesso, evitando assim perda de competitividade para o
produto nacional. Por sua vez, as ações realizadas pelas concessionárias
ferroviárias e rodoviárias são percebidas como importantes
impulsionadores das melhorias ocorridas em relação ao passado. E, quanto
ao futuro, a expectativa é otimista. Resta saber se as melhorias
previstas serão realmente alcançadas.
BIBLIOGRAFIA
CEL/COPPEAD. Panorama Logístico – Intermodalidade de Contêineres no Brasil, Relatório de Pesquisa, 2006.
CEL/COPPEAD. Panorama Logístico – Logística e Comércio Internacional, Relatório de Pesquisa, 2005.
FIGUEIREDO, K. F.; FLEURY, P. F; WANKE, P.
Logística e gerenciamento da cadeia de suprimentos: planejamento do
fluxo de produtos e dos recursos. São Paulo: Editora Atlas, 2003.
U.S DEPARTMENT OF TRANSPORTATION, FEDERAL
HIGHWAY ADMINISTRATION. NHS Intermodal Freight Connectors: Report to
Congress, EUA, 2000.
Nota de Rodapé
1 – Valor estimado pelos portos e terminais para 2007