Aumentar o investimento em máquinas, equipamentos,
fábricas, infraestrutura e outros ativos essenciais ao crescimento
econômico é uma das metas do governo - um objetivo reafirmado em várias
ocasiões e agora posto mais uma vez no topo da agenda. A pretensão,
segundo se informa em Brasília, é criar condições para o País investir
no próximo ano 10% mais do que em 2012. Se der certo, o aumento da
capacidade produtiva ainda terá sido medíocre. Mesmo com esse aumento, o
governo e o setor privado terão investido, na melhor hipótese, algo
próximo de 20% do Produto Interno Bruto (PIB), uma proporção irrisória
diante das necessidades do Brasil e do esforço observado em outras
economias emergentes, com taxas acima de 25% e em muitos casos
superiores a 30%. Embora a presidente Dilma Rousseff e seus ministros se
recusem a admiti-lo, o esquema de expansão econômica baseada no consumo
está obviamente esgotado. A mudança depende tanto de ações econômicas
em vários campos quanto da melhora da administração pública - direta e
indireta.
A elevação do investimento pretendida pelo governo é pouco ambiciosa,
mas talvez seja realista, diante dos pobres resultados obtidos nos
últimos anos. As últimas projeções da área oficial, apresentadas no
relatório trimestral de inflação do Banco Central (BC) são pouco
animadoras. As novas estimativas indicam para este ano crescimento
econômico de apenas 1,6% e investimento 2,2% menor que o de 2011. Até o
meio do próximo ano, o PIB terá crescido 3,3% em quatro trimestres e o
valor investido terá aumentado só 1,4%.
Até agora, as contas nacionais calculadas pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE) cobrem até o fim do primeiro semestre.
Entre abril e junho, o investimento em bens de produção, infraestrutura
e outras construções equivaleu a 17,9% do PIB. No segundo trimestre do
2012 a relação havia sido de 18,8%. Pode ter ocorrido nova redução no
terceiro trimestre, segundo a Fundação Getúlio Vargas.
Nos últimos dez anos, as taxas mais altas ficaram em torno de 19% do
PIB, mas o resultado deste ano poderá ser mais modesto. Se o PIB crescer
4% em 2013 e o investimento for 10% maior que o deste ano, a proporção
ainda ficará próxima - e talvez abaixo - de 20%. O governo anunciou há
algum tempo a intenção de alcançar 24% até 2014, mas só com muito
otimismo se pode, atualmente, apostar nesse resultado.
O menos importante, nesta altura, é fixar metas. Todos estão de
acordo quanto à necessidade de se investir pelo menos 24% ou 25% do PIB
para sustentar, a longo prazo, um crescimento econômico igual ou pouco
superior a 5% ao ano. É um erro fixar um objetivo de expansão econômica
para um ou dois anos, mas essa foi a política dominante na maior parte
da última década.
Em vez de continuar simplesmente inventando metas e definindo
políticas de curto alcance, o governo deveria estudar seriamente a
situação para chegar a uma política para tentar remover os obstáculos. A
baixa qualidade do planejamento e da execução de projetos da
administração federal é um dos entraves mais evidentes. Neste ano, até
agosto, as estatais controladas pela União investiram 53,3% do previsto
para 2012, mas só uma empresa, a Petrobrás, foi responsável por 89,7% do
total aplicado no período.
No Sudoeste da Bahia, 185 aerogeradores - cataventos gigantes - estão
prontos para produzir energia elétrica, mas continuam parados por falta
de linhas de transmissão. Este é apenas um dos muitos e espantosos
exemplos de incompetência gerencial de um setor público loteado,
aparelhado e preparado muito mais para acomodar companheiros e aliados
do que para operar e apoiar o desenvolvimento.
Há outros bem conhecidos. Dois dos mais importantes são a tributação
excessiva e mal distribuída e as discutíveis prioridades do Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), muito mais
empenhado em apoiar grandes grupos eleitos como vencedores do que em
multiplicar as oportunidades de crescimento e de modernização de
milhares de outras empresas promissoras. Sem o ataque a esses problemas,
a fixação de metas de investimento será uma perda de tempo.
O Estado de S.Paulo
02 de outubro de 2012 | 3h 09
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