O governo concluiu os estudos de viabilidade técnica de uma
conexão entre as ferrovias Transnordestina e Norte-Sul, as duas maiores
do País em construção. A proposta é muito importante para criar, no
futuro, uma malha ferroviária nacional, o que possibilitaria, por
exemplo, uma carga chegar da China ao Porto de Suape e ser enviada de
trem até São Paulo, na primeira grande ligação por estrada de ferro
entre o Nordeste e o Centro-Sul brasileiro. O projeto está com a Valec,
estatal federal de ferrovias, que submeterá a papelada ao crivo de
órgãos ambientais. A expectativa é de que em até 8 meses a versão básica
fique pronta, com traçado e custos detalhados.
O projeto é de longo prazo, tendo em vista que a Transnordestina e a
Norte-Sul estão em obras e, ainda por cima, atrasadas. O estudo foi
incluído no Programa de Aceleração do Crescimento 2 (PAC 2), do governo
Dilma Rousseff.
A informação básica para iniciar o que se chama de análise de
viabilidade técnica econômica e ambiental da conexão foi o ponto a
partir do qual as ferrovias vão ser interligadas. Pelo lado da
Transnordestina, a conexão começará no município de Eliseu Martins, sul
do Piauí, e seguirá em direção a oeste até encontrar a Norte-Sul, na
altura da cidade de Estreito, interior do Maranhão.
A assessoria de imprensa da Valec informou que a estatal trabalha na
validação dos números do estudo de viabilidade, que tratam de topografia
e potencial de cargas, por exemplo, para definir pontos importantes,
como locais de instalação de plataformas logísticas, onde ocorrerá a
carga e descarga dos vagões. Depois disso, o projeto passará pelo
Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais (Ibama), para
obter o licenciamento, fase em que será discutido em audiências
públicas.
A Transnordestina e a Norte-Sul são os principais projetos
ferroviários do Brasil incluídos no primeiro PAC, em 2007, no governo
Luiz Inácio Lula da Silva. Ambos atrasaram bastante.
A ferrovia
Transnordestina terá 1.728 quilômetros e unirá o Sertão do Piauí ao
litoral de Ceará e Pernambuco. Os trilhos começam em Eliseu Martins (PI)
e seguem até Salgueiro, em Pernambuco, seguem por dois ramais
diferentes, um em direção ao Porto de Pecém, no Ceará, e outro rumo ao
Porto de Suape. Todo o conjunto, pelo prazo original, sairia em 2010,
mas a ferrovia tem apenas 36% executados, segundo o Ministério dos
Transportes.
Como as desapropriações ocorreram de forma mais ágil em Pernambuco, o
ramal de Suape está mais adiantado do que o outro é esperado para o
final do ano que vem. O que segue até Pecém deve sair apenas no final de
2014.
No caso da ferrovia Norte-Sul, foram incluídos no PAC 1.536
quilômetros entre Palmas, no Tocantins, até Estrela D’Oeste, em São
Paulo. Assim como a Transnordestina, o governo anterior previa a
conclusão da obra em 2010.
Pelos números do PAC 2, apenas um primeiro trecho, de Tocantins a
Anápolis, em Goiás, deve sair até o próximo dia 20. O restante, até São
Paulo, viria somente em 2014.
O investimento total na Norte-Sul era estimado em R$ 3,37 bilhões,
mas o valor já foi executado até 2010 e o custo atual do projeto está
atualmente em revisão, informa o governo federal.
Governo vai mexer em prazos - Depois de acumular atrasos no projeto e
da presidente Dilma Rousseff garantir que não haveria mais mudanças no
projeto da Transnordestina, o governo federal avalia novas mudanças em
prazos e custos na ferrovia. O projeto bilionário é o mais caro do
Brasil quando se trata de transporte ferroviário de cargas. As obras da
Transnordestina começaram em 2007 e, depois de cinco anos, têm apenas
36% de execução.
Em fevereiro passado, na primeira visita às obras da Transnordestina
desde que assumiu a Presidência da República, a presidente Dilma afirmou
que não haveria novos aumentos de custo no projeto.
“Posso assegurar que o governo já fez várias avaliações
econômico-financeiras sobre a ferrovia, e não pretende ficar elevando
indefinidamente o orçamento. Sabemos que numa obra desse tamanho há
sempre gastos não planejados, mas temos certeza de que nosso orçamento
está bem próximo da realidade”, afirmou Dilma Rousseff, em fevereiro.
A conversa mudou de tom, segundo o Ministério dos Transportes, ao
confirmar ao JC que cogita novas alterações. “As possíveis alterações no
orçamento e ou no prazo de conclusão ainda estão em fase de estudo”,
informou o ministério, através de nota encaminhada pela assessoria de
imprensa.
O trecho mais adiantado e praticamente pronto, segundo dados
coletados em abril pelo Ministério dos Transportes, é o de 96
quilômetros entre Missão Velha, no Ceará, e Salgueiro, em Pernambuco. Em
seguida, vem um de 163 quilômetros de Salgueiro até Trindade.
Mesmo nos trechos mais adiantados, quando se compara os dados
atualizados do Ministério dos Transportes com o último balanço do
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2), do final do ano passado,
os pequenos atrasos que vão se somando na obra são perceptíveis. O
trecho Missão Velha-Salgueiro deveria ter ficado pronto em março e o
Salgueiro-Trindade, em abril.
De todos, o mais atrasado é um trecho de 523 quilômetros entre Pecém e
Missão Velha, que só teve iniciados, até agora, obras de infraestrutura
(basicamente, terraplenagem) e as obras de arte especiais, como pontes.
A última fase da construção de uma ferrovia é a colocação de trilhos, a
chamada superestrutura, que ainda não teve início nesse trecho.
A base da Transnordestina fica no município de Salgueiro, onde são
produzidos os dormentes, a partir de uma mina de extração de brita no
próprio município. De lá, o trem se encarrega de transportar o material
nas três direções (rumo ao interior do Piauí, a Pecém e a Suape).
Jornal do Comércio 27 junho 2012
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